27.DIFERENTES INTERPRETAÇÕES DO MARXISMO
DIFERENTES
INTERPRETAÇÕES DO MARXISMO
ATUALIDADES DE
NELSON WERNECK SODRÉ NA CELEBRAÇÃO DOS SEUS 110 ANOS PELA ACADIL
No início de abril, a atual Presidente da Academia Ituana de Letras
(ACADIL), Allie Queiroz, me enviou um convite para participar da reunião
ordinária virtual desta instituição, em 10 de abril de 2021, na qual o Mestre
em História Social pela USP, professor Luccas Maldonado[1] faria uma apresentação com o
título "Os conceitos de justiça e povo em Nelson Werneck Sodré", a
pedido da Academia em comemoração dos 110 anos deste historiador e escritor
brasileiro[2].
Em novembro de 2018, eu estive na ACADIL comemorando a criação de uma
cadeira da Academia de Letras de Itu com o nome de Nelson Werneck Sodré
(seu patrono), mas declinei do convite para a atual comemoração por não estar
mais participando de eventos. Manifestei, contudo, minha alegria em poder
publicar o texto da palestra de Luccas Eduardo Maldonado[3].
Tenho grande gratidão à ACADIL por tudo que tem feito pela memória de
Nelson Werneck Sodré. Logo após ter vindo morar em Itu, em 2008, fui
carinhosamente recebida por Luís Roberto de Francisco, membro desta Academia[4]. Em
2010, tive a oportunidade de participar do livro organizado pela Academia
Ituana de Letras (ACADIL) para homenagear o quarto centenário de Itu. Em meu
texto escrito para este livro, relembrei como meu pai não só se integrou às
raízes ituanas de minha família materna, ao vir servir como tenente no Quartel
de Itu e casar-se com minha mãe, como também foi quando morava em Itu que teve
início o seu percurso intelectual[5].
Em 2011, por ocasião das celebrações do Centenário
de Nelson Werneck Sodré, um grupo formado por vários intelectuais ituanos
- entre eles dois membros da ACADIL (Luís Roberto de Francisco e Durce Sanchez)
- teve uma participação decisiva para a promulgação do Ano Nelson
Werneck Sodré pela Prefeitura de Itu e de sua Secretaria de Cultura.
Com o apoio deste grupo, foi impulsionado o amplo movimento comemorativo que se
espalhou por todo o Brasil.
Em evento no Museu Republicano Convenção de Itu (em
13 de abril de 2011) para comemorar o Centenário de Nelson Werneck Sodré, o
eminente historiador Marcos Silva - professor titular de Metodologia da
História na FFLCH/USP e organizador do Dicionário Crítico Nelson
Werneck Sodré[6]
- ressaltou a influência da obra histórica de Nelson Werneck Sodré, como
relatei em meu livro Odisseia de um General do Povo e de sua geração
intelectual[7].
Nascido em Itu, este movimento de celebração do centenário veio a integrar a
participação das mais conceituadas instituições brasileiras[8].
O texto da conferência de Luccas Eduardo Maldonado aponta
para o horizonte dos conceitos de justiça e povo na obra de
Nelson Werneck Sodré. Sem aprofundar
especificamente estes conceitos, ele salienta, entretanto, a capacidade desse
historiador de nos revelar questões importantes para o conhecimento da
realidade brasileira em relação a estes temas. Ele põe em relevo o esforço de
Nelson Werneck Sodré de reavaliar constantemente sua própria produção ao longo
do tempo.
Tendo acompanhado esse processo de elaboração intelectual
de meu pai, relaciono-o ao seu aprofundamento do marxismo e às transformações
de seu pensamento com base neste método, cuja evolução destacarei em um próximo
texto para o Blogue. Uma contribuição decisiva para a criatividade de seus
conceitos foi sua orientação em relação às interpretações do marxismo na linha
do grande teórico italiano Antonio Gramsci (22 de janeiro de 1891- 27 de abril
de 1937) e do professor universitário Georg Lukács (13 de abril de 1885 – 4 de
junho de 1971)[9].
Assim sendo, Nelson Werneck Sodré pode ser considerado ao mesmo
tempo um autor ‘clássico’ e um inovador do marxismo, como destaca Luccas Maldonado em
seu texto. Ele o apresenta não só como um autor ‘clássico’ na literatura e na
interpretação social do Brasil. Destaca também sua criação de um acervo de conceitos
capazes de explicar a construção histórica brasileira. Aborda, então, a
discussão em torno de sua interpretação da ‘questão feudal’ no Brasil[10].
Conclui que a celebração dos cento e dez anos do nascimento de Nelson Werneck
Sodré representa uma nova oportunidade de se refletir sobre sua obra, esperando
que ela nos “presenteie com abordagens mais sofisticadas desse grande
personagem”.
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Atualidades de Nelson
Werneck Sodré[11]
Luccas Eduardo
Maldonado[12]
[Este texto foi
originalmente constituído como uma conferência, proferida na Academia de Letras
de Itu em 10 de abril de 2021. Fazia-se na oportunidade uma homenagem a Nelson
Werneck Sodré, um dos patronos dessa instituição, devido à efeméride dos 110
anos do seu nascimento.]
Efemérides são
momentos privilegiados para se repensar. A passagem do tempo possibilita a
reorganização de sentidos, o descobrimento de ângulos, a renúncia de preconceitos,
a percepção de nuances...
Os duzentos anos do
nascimento de Karl Marx, em 2018, foi terreno fértil para novas apreciações
sobre o autor. No século passado, redigiram-se trabalhos que o projetavam como
um tipo de messias. Tal construção está posta, por exemplo, na biografia
escrita por Günter Radczun, O Prometeu de Trier.[13] Nela o teórico alemão não é posto como um intérprete da
realidade social, mas é apresentado de forma quase religiosa, como o autor de
um sistema fechado e infalível. A alegoria feita por Radczun que compara Marx
ao titã Prometeu – personagem que entregou o fogo, metáfora do conhecimento, à
humanidade, sendo por isso responsável por libertá-la da ignorância – mais
obscurece do que revela. Nesse movimento, suprime aquilo que é múltiplo em prol
de uma imagem pronta e rasa, apagando a faceta do rigoroso autor que buscava
constituir categorias para interpretar a realidade social.
O tempo traz novas
possibilidades. Motivados pela efeméride dos duzentos anos do nascimento de
Karl Marx em 2018, autores de variadas nacionalidades lançaram um conjunto de
biografias explorando a sua riqueza conceitual, suas contradições, seus
limites, suas virtudes e outros horizontes.[14] Em suma, constituiu-se um movimento mais rico do que fora feito
no século XX. O tempo agia e novas possibilidades emergiam.
Nesse ano,
completam-se cento e dez anos do nascimento de Nelson Werneck Sodré e com isso
uma nova chance de avaliação surge. Durante a Quarta República (1946-1964), tal
escritor foi provavelmente o intelectual marxista mais influente do Brasil.
Seus livros eram lançados por grandes editoras e tinham várias reedições, sendo
debatidos nas revistas especializadas e consumidos pela inteligência local.[15] Além dessa qualitativa recepção, também ocupava posições
importantes como a de professor do Instituto Superior de Estudos Brasileiros
(ISEB) e de editorialista em grandes jornais como O Semanário, Correio
Paulistano, Última Hora etc.
Se a sua consagração
intelectual foi inconteste nos anos 1950 e 1960, situação muito distinta deu-se
nas décadas seguintes. Após o golpe de 1964, a esquerda e a universidade
desenvolveram diversas reservas ao pensamento de Sodré. Sua posição de
principal ideólogo do Partido Comunista Brasileiro (PCB) serviu de motor para
se questionar a integridade da sua obra. As posições equivocadas da legenda
eram transpostas ao autor de maneira unilateral, poucas análises eram
realizadas nesse movimento. Em resumo, foi lido meramente como um vulgarizador.
A imagem construída de Sodré por Jacob Gorender em O escravismo colonial [1978]
foi nessa direção.[16] Gorender recusou-se a considerar os seus textos, colocando-os
como a produção de um diletante que caía em frequentes erros lógicos. A
academia brasileira não assumiu posições muito distintas. O historiador da USP
Carlos Guilherme Mota, ao realizar uma espécie de síntese histórica do
pensamento social brasileiro em Ideologia da Cultura Brasileira [1977],
designou a obra de Sodré de maneira profundamente pejorativa, taxando-a de
esquemática e vulgar.[17]
Com a Nova República,
um novo contexto emergiu e surgiram avaliações da produção de Sodré que
romperam com as imagens anteriores. A doação de seu acervo para a Biblioteca
Nacional abriu caminhos para a composição de uma série de novos estudos que
romperam com o paradigma de ideólogo e vulgarizador. Os professores José Paulo
Netto, Marcos Silva, Paulo Ribeiro da Cunha e outros mais escreveram trabalhos
destacando suas qualidades.[18]
O estudo desse
último, intitulado Um olhar à esquerda, que na realidade foi sua
tese de doutoramento defendida na Universidade de Campinas (UNICAMP), merece
destaque uma vez que constitui uma abordagem integral da obra e da trajetória
de Sodré, explorando inclusive os seus textos jornalísticos de difícil acesso.
A coletânea Nelson Werneck Sodré entre o sabre e a pena, que reuniu mais
de vinte pessoas para debater as contribuições de Sodré, é um ponto importante
nessa virada uma vez que demonstra amplo esforço coletivo de se pensar a obra
de tal personagem. A ação de Olga, a filha de Sodré, que insistentemente e
louvavelmente relembra, republica e debate a obra do pai também é um movimento
importante para a constituição dessa virada.
Não se está querendo
apagar a dimensão política de Sodré. Boa parte de sua produção foi constituída
com o fim de intervenção e uma interpretação justa deve trazer tal
característica. No entanto, pretende-se destacar o que existe nos seus textos
para além das disputas do momento de sua redação. Coloca-se a sua condição de
intérprete, de autor que foi capaz de constituir uma explicação a respeito da
realidade social, a qual pode servir ainda hoje como um horizonte. Portanto,
visa-se enquadrar-lhe na dimensão de “clássico” no sentido posto por Italo
Calvino.[19] Tal condição é oferecida para os escritos que mesmo com a
passagem do tempo ainda se mostram capazes de oferecer sentidos ao presente.
Seria Nelson Werneck Sodré um exemplar de clássico brasileiro, um expoente de
nosso cânone.
Contudo, o que há de
“clássico” em Sodré? Em que ele se mostra útil no âmbito reflexivo?
Destacar-se-ão duas possibilidades, uma vinculada à literatura e outra à
história. Tarefa um tanto ingrata uma vez que circunscrever textos específicos
em uma obra com mais de cinquenta títulos e três mil artigos é um procedimento
no mínimo arriscado. Omissões e carência de aprofundamentos são riscos
inevitáveis.
Sodré escreveu sobre
muitas temáticas ao longo da vida. Seu reportório circunscreve: história
militar, econômica, cultural, editorial etc. Um dos temas mais trabalhados por
ele é a literatura, aliás sua estreia como autor público deu-se como crítico em
uma das várias publicações dedicadas às letras existentes no início do século
no Brasil.
Seu primeiro livro, História
da literatura brasileira. Seus fundamentos econômicos, foi uma tentativa de
constituir uma história da literatura brasileira considerando os fenômenos
econômicos e sociais no processo de criação literária.[20] A obra, embora tenha seus limites já que se trata de um
exercício de juventude, foi na contramão de uma tradição muito comum em sua
época, a de estudar as obras e os autores de maneira profundamente
descontextualizada. Era constante a publicação de compêndios que exploravam as
principais obras de determinados autores. Nessas descrições, as ideias pareciam
flutuar inertes, quase sem nenhuma contextualização, ou seja, a expressão de um
formalismo exacerbado.
Quando História da
literatura brasileira de Sodré apareceu em 1938, não havia o Departamento
de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, responsável por consagrar
esse tipo de abordagem. Antonio Candido de Mello e Souza, que fundaria esse
departamento em 1961, daria os seus primeiros passos como crítico literário na
revista Clima e depois no jornal Folha da Manhã somente nos anos
1940. Portanto, a bibliografia que Sodré tinha para dialogar ao redigir o seu
trabalho eram expoentes dessa tradição pouco preocupada com os fundamentos
históricos da análise. Fazia-se pouca articulação social. Os mais refinados
autores das gerações anteriores à de Sodré, Sílvio Romero e José Veríssimo,
buscavam articular esses âmbitos, mas estavam distantes de ter um suporte
teórico-metodológico suficiente para enfrentar o problema. Em geral, compunham
uma vinculação geracional dos autores de uma época, as chamadas escolas literárias
como o Romantismo e o Parnasianismo, e enunciavam as suas principais
influências originárias da Europa como o positivismo, o idealismo etc.[21]
Constituir mediações
entre as construções intelectuais dos indivíduos e o contexto é um desafio
substantivo. O procedimento comum de designar a literatura como a expressão de
uma época diz muito pouco a respeito do texto, de sua construção, do uso de
suas figuras de linguagem, do seu gênero... Em suma, há uma problemática que
Sodré começou a enfrentar na realidade brasileira.
Sobre isso, há de se
tomar certo cuidado para não se tomar o fim pelo começo. História da
literatura brasileira foi retrabalhado por Sodré ao longo de décadas. Se,
por um lado, tal livro foi sua estreia como autor. Pode-se dizer, por outro,
que esse trabalho não é um livro único uma vez que Sodré o reescreveu ao longo
de sua vida diversas vezes. Na sua primeira edição pela Cultura Brasileira,
tinha um pouco menos que duzentas e cinquenta páginas. Nas últimas edições que
apareceram nos anos 1970, a obra já contava com quase seiscentas páginas,
estando o texto profundamente reelaborado.[22]
Nas páginas dessa
obra, revela-se um homem que reavaliou profundamente a sua produção ao longo do
tempo. São conhecidas as reelaborações de Sérgio Buarque de Holanda em Raízes
do Brasil, de Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala,[23] mas nada se aproxima do esforço autorreflexivo de Sodré. Não
são passagens, mas a quase integridade do texto. A primeira e a última edição
muito pouco têm em comum. Em suas memórias, é explícita a sua insatisfação para
com o livro. Feito às pressas no ânimo juvenil de ter o primeiro livro
publicado, Sodré não conseguiu dar os aprofundamentos necessários – aliás, vale
destacar Memórias de um escritor [1970] como um trabalho de grande
valor: crítico literário desde os anos 1930, Sodré relata parte importante de
nossa história da literatura a partir de um ângulo privilegiado, o do
editorialista.[24]
De um pequeno estudo
no qual se fazia pontes apressadas entre texto e contexto, História da
literatura brasileira deriva-se décadas depois em uma investigação de
fôlego na qual se busca as vinculações da cultura com a autonomia nacional. A
existência de um povo não teria como predicado somente questões
político-econômicas, mas também uma dimensão intelectual, de capacidade de
pensar mais profundamente sobre si a partir de horizontes da literatura, da
filosofia etc. A condição de “clássico” a Sodré está nesse exercício de buscar
na literatura, algo em geral constituído de maneira profundamente individual,
indicações de nossa coletividade. Vislumbrar no exercício individual de um
autor algo que exprima o grupo mais amplo no qual ele se insere.
O outro âmbito o qual
se pretende destacar na obra de Sodré circunscreve o núcleo fundamental de sua
produção, o de intérprete do Brasil. Sodré não é simplesmente um autor que
explorou temas brasileiros. Vislumbra-se em sua obra um movimento mais amplo.
Na realidade, destaca-se um autor que constituiu todo um acervo de conceitos
tencionando explicar a construção histórica do Brasil. Sua obra busca uma
coerência investigativa, deslocando-se na tradição marxista para investigar
temas caros ao país como: a organização de classe, o regime de propriedade, a
condição de suas elites, a produção industrial e agropecuária etc.
São muitos livros e
nuances que poderiam ser explorados. No entanto, pretende-se destacar uma
possibilidade reflexiva a partir de um dos seus principais problemas de
pesquisa. Sodré foi muito criticado na segunda metade do século XX por sua
leitura que atribuía características feudais à realidade brasileira. Essa
interpretação seria profundamente questionada pela historiografia uspiana, mais
afeita à construção de Caio Prado Júnior de que o Brasil desde as suas origens
era fundamentalmente capitalista.
Aproximar o
feudalismo da formação específica que emergiu no Nordeste a partir do século
XVI é um tanto problemático. De fato, falar de “resquícios feudais” na formação
brasileira não se fundamenta. Economia de subsistência não é uma característica
marcante na história brasileira. As principais unidades produtivas da história
do país eram grandes produções agrícolas voltadas à exportação: açúcar, café
etc. A categoria de feudal, produções constituídas para a manutenção de sua
própria existência quase sem nenhuma interação com o exterior, não se encaixa
bem ao fenômeno.
No entanto, desconsiderar a obra é um
movimento um tanto apressado. Não é preciso comprar a integridade do argumento.
Pretende-se partir dele para refletir sobre problemas caros ao Brasil. Não
estamos explorando Sodré a partir de um prisma de catequese no qual se deve
assumir a totalidade de uma leitura. Parte-se do escritor para explorar um
problema, inclusive renunciando dimensões as quais se acham problemáticas. Um
exemplo é sua característica teleológica. Muitas vezes Sodré concebe a história
de maneira um tanto esquemática, esboçando-a como fases em um sentido
específico, provavelmente sendo esse o ponto mais fraco de sua obra.
As considerações de
Sodré sobre o feudal, que estão principalmente nos livros Introdução à
Revolução Brasileira e Formação História do Brasil,[25] podem ser ponto de partida não para o problema econômico, mas
na realidade para o problema jurídico, o qual é latente no Brasil. Sodré não
argumenta que há uma ordem aristocrática com suseranos e vassalos na realidade
brasileira, jamais faria uma vulgarização tão caricata. Na realidade, faz
alguns apontamentos sobre desigualdades latentes no que se refere a cidadania,
ao regime de trabalho contratualizado etc.
O autor aponta que
nossa ordem jurídica possui diversas características que estão mais próximas de
um regime de ordens estamentais do que de uma plenitude isonômica como às vezes
é apresentado por um suposto ideal liberal-burguês. Contesta, assim, a
existência no Brasil de uma das principais premissas da constituição de uma
sociedade liberal: a isonomia política, estendendo seu argumento não somente
para o Império e a Colônia, quando uma parte do povo estava submetida à
escravidão, mas também à República, destacando a porcentagem baixíssima de
votantes e as formas de regularização de trabalho que mais lembravam a servidão
do que o regime assalariado.
Em um país que passa
por uma crise jurídica profunda, onde menos de 10% dos assassinatos são
resolvidos, que o acesso ao direito de defesa, mesmo com a garantia
constitucional, é extremamente precário, ter Sodré como um horizonte analítico
para se pensar nossas desigualdades, não somente econômicas, mas também
jurídicas, é um privilégio. Não se está falando que Sodré tem a resposta para
esses desafios do tempo presente. É uma resposta um tanto simplória para problemas
substantivos. Argumenta-se em favor da condição de “clássico” a Sodré, por ser
um autor capaz de nos revelar questões importantes sobre esses problemas.
A concluir, a
efeméride dos cento e dez anos do nascimento de Nelson Werneck Sodré traz uma
vez mais a oportunidade de se refletir sobre sua obra. Destacaram-se duas
possibilidades reflexivas no seu amplo trabalho, dois limitados encaminhamentos
que estão longe de serem explorados com fôlego. Esperemos que essa efeméride
nos presenteie com abordagens mais sofisticadas desse grande personagem.
FONTE
DA IMAGEM INICIAL: CAPA DO LIVRO DA ACADIL
PARA VER NO FACEBOOK:
https://www.facebook.com/centrodeestudos.brasileiros/posts/4030017683745165
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[1] Graduado em História pela Universidade de São Paulo (USP)
e mestre em História Social pela mesma instituição.
[2] Nelson Werneck Sodré foi por ela apresentado como ‘um
intelectual cada vez mais atual e necessário nesses tempos difíceis que passamos’.
[3] Este conferencista já deu um primeiro testemunho ao blogue de Nelson Werneck Sodré. Eu o
considero particularmente bem dotado e com excelente base, sobretudo para
alguém que está ainda no início de sua carreira acadêmica. Esta avaliação é
feita a partir de minha experiência no ensino de cursos de mestrado e convívio
por longos anos no meio da pós-graduação. Fiz duas teses de doutorado e dois
pós-doutorados, na França e no Brasil (na área de filosofia e ciências
humanas), e participei de atividades no âmbito da Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP) e do Grupo de Trabalho em
Psicologia da Religião da USP.
[4] Ele logo reuniu, na sede do Museu da
Música de Itu, alguns intelectuais e músicos ituanos para relembrar meu pai.
[5] Nelson Werneck Sodré estava servindo no Regimento
Deodoro (Itu), na ocasião em que foi descoberto por um jornalista da redação
do Correio Paulistano. Quando morava em Itu, ele escreveu seu
primeiro artigo como jornalista para este jornal, em setembro de 1934 (antes de
seu casamento em 1935).
[6] Publicado pela
editora da UFRJ, em 2008.
[7] Publicado pela
Editora Paco, Jundiaí (SP), em 2019.
[8] Tais como a Associação
Brasileira de Imprensa (ABI), a Casa Rui Barbosa, a Biblioteca Nacional
(BN), o Instituto Histórico Geográfico (IHGB), a Academia Brasileira de
Letras (ABL), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicadas (IPEA) do Ministério
da Economia, a Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM), assim como
várias universidades e entidades de representação cultural e política. A
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro concedeu a Nelson Werneck
Sodré o prêmio Barbosa Lima Sobrinho de Jornalismo e a medalha Tiradentes post-mortem. Por
ocasião de cerimônia realizada no dia 30 de abril de 2014, no
Palácio Itamaraty, em Brasília, que teve como tema
"Liberdade de expressão, verdade e memória", o Conselho da Ordem
de Rio Branco admitiu postumamente Nelson Werneck Sodré nessa
Ordem, no grau de Oficial, por sua enorme contribuição para a cultura
brasileira. Nessa ocasião, foi- lhe outorgada a insígnia da Ordem de
Rio Branco por meio de um decreto da Presidência da República, publicado
no Diário Oficial da União nessa mesma data.
[9] Esse
intelectual marxista húngaro muito contribuiu para a filosofia política, para a
crítica literária, para
a reformulação da ortodoxia marxista de cunho ideológico
e para o afastamento de Nelson Werneck Sodré deste tipo de enfoque ortodoxo.
[10]Considero pessoalmente a concepção de ‘regressão feudal’ como uma das
interpretações mais criativas de Nelson Werneck Sodré. Essa ideia dele foi
objeto de muitas incompreensões. Ele não
aplicou ao Brasil a clássica
categoria marxista de ‘feudalismo’, mas utilizou a noção de ‘regressão feudal’
para descrever e analisar a existência de formas de relação social de servidão,
que se apresentavam como um retrocesso em relação ao avanço introduzido pelo
modo assalariado dominante no capitalismo. Temos até hoje formas de trabalho
escravo, no Brasil, embora já não mais domine o sistema social da escravidão.
[11] Agradeço a João Victor
Lourenço de Castro e Luís Roberto da Rocha de Francisco por terem corrigido o
texto e debatidos suas ideias comigo.
[12] Graduado em História pela
Universidade de São Paulo (USP) e mestre em História Social pela mesma
instituição.
[13] RADCZUN, Günter. El Prometeo de Treveris: Carlos Marx.
Havana: Ciencias Sociales, 1974.
[14]
JONES, Gareth Stedman. Karl Marx: Greatness
and Illusion. Londres: Allen Lane, 2016. NEFFE,
Jürgen. Marx: Der Unvollendete. München: C. Bertelsmann, 2017. HEINRICH, Michael. Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna. São Paulo: Boitempo,
2018.
[15] SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução
à Revolução Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. SODRÉ, Nelson
Werneck. Formação histórica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1962.
[16] GORENDER, Jacob. O
escravismo colonial. São Paulo: Ática, 1978.
[17] MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974).
São Paulo: Ática, 1977.
[18] NETTO, José Paulo. Nelson
Werneck Sodré: o general da história e da cultura. São Paulo: Expressão
Popular, 2011. SILVA, Marcos. Nelson Werneck Sodré na historiografia
brasileira. Bauru: EDUSP, 2001. SILVA, Marcos (org.). Dicionário crítico
Nelson Werneck Sodré. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008. CUNHA, Paulo Ribeiro da. Um
olhar à esquerda: a utopia tenentista na construção do pensamento marxista de
Nelson Werneck Sodré. Rio de Janeiro: Revan, 2002.
[19] CALVINO, Italo. Por
que ler os clássicos? São Paulo: Companhia de Bolso, 2007.
[20] SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira.
Seus fundamentos econômicos. São Paulo: Cultura Brasileira, 1938.
[21] A obra de Romero foi publicada em 1888 e a de Veríssimo
em 1916. ROMERO,
Sílvio. História da Literatura Brasileira. José Olympio, 1943.
VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira. Brasília, UnB, 1963.
[22] SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira.
Seus fundamentos econômicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.
[23] Cita-se as edições
críticas de tais obras nas quais se pode ver as transformações dos autores.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil – edição crítica. São
Paulo: Companhia das Letras, 2016. FREYRE, Gilberto. Casa-Grande &
Senzala. Madrid: Allca, 2002.
[24] SODRÉ, Nelson Werneck. Memórias de um Escritor. Itu: Ottoni, 2011.
[25] SODRÉ,
Nelson Werneck. Introdução à Revolução Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio,
1958. SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1962.
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