17. SOPRO DA VIDA E SEMENTES DA NATUREZA E DA CULTURA

 

SOPRO DA VIDA E SEMENTES DA NATUREZA E DA CULTURA

- O IMPORTANTE PAPEL DOS QUE FORMAM AS NOVAS GERAÇÕES –

 

OS SERES VIVOS PRECISAM RESPIRAR, SENÃO ASFIXIAM E MORREM


 

 

“Sopro da vida – Putakaryy Kakykary” [1] é o título do livro do índio Kamuu Dan Wapichana, um emocionante relato de amor e esperança. É um esforço de preservar tradições indígenas ancestrais de respeito, conhecimento e cuidado da Natureza pela etnia Wapichana, que vivia no cerrado do Planalto Central do Brasil. O livro publicado em português e na língua dessa etnia conta a história de Win Dan, um menino de quatro anos, empenhado em salvar as “plantas bebês”, nome por ele dado às sementes que estavam doentes e não germinavam.

Os seres vivos não podem viver sem respirar, senão asfixiam e morrem, como aconteceu na recente tragédia vivida pela população de Manaus, que atingiu até bebês prematuros por falta de oxigênio nos hospitais. A natureza precisa igualmente respirar, e alguns ecologistas defendem a ideia que o vírus Corona-19 é resultado do desequilíbrio da natureza e destruição de nossas florestas. Alegoricamente, poderia se dizer que a natureza sufocada pela poluição do ar, responde à agressão atacando os pulmões humanos e impedindo a respiração até à asfixia e à morte. 

No entanto, o símbolo de sufocamento e falta de ar é ainda mais amplo. Acompanhei estes tristes acontecimento em Manaus aos prantos por assistir tanto desespero, sofrimento, perdas e mortes de vidas que poderiam ter sido cuidadas e salvas. Desse modo, a ação mortífera humana que asfixia o sopro da vida e mata não atinge apenas a natureza, mas também as relações humanas e a vida social. tornando-se um expressivo símbolo do sombrio momento que a humanidade atravessa em nosso país e no planeta.

 A cultura e o pensamento também podem ser asfixiados e correr risco de morte. Por isso, valorizo o esforço de manter a memória viva de Nelson Werneck Sodré realizado pelos que multiplicam as sementes de suas contribuições ao pensamento brasileiro e à luta pela cultura nacional. Em 18/01/2021, recebi um e-mail de Caio Navarro de Toledo, professor do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e organizador de um maravilhoso dossiê sobre Nelson Werneck Sodré, já postado no Blogue Memória Viva de Nelson Werneck Sodré em 17/11/2020 (Texto 5. PUBLICAÇÃO DE UM PRECIOSO DOSSIÊ SOBRE NELSON WERNECK SODRÉ).

Em 17/01/2021, eu havia escrito ao Caio, reiterando meu reconhecimento por tudo que ele e a equipe da editora marxismo21 têm feito pela obra do meu pai, e lhe explicava: “Não sou marxista, mas acho que a obra dele tem grande valor, e sua memória deve ser preservada. Sua resposta no e-mail de 18/01/21 confirma o sentido principal de meu esforço de preservação da obra de Nelson Werneck Sodré: “Prezada Olga, mesmo não sendo marxista, seu querido pai, certamente, se orgulha de seu trabalho que tem um compromisso com os ideais de radical transformação da sociedade brasileira.”

Esse trabalho de cultivo das sementes e preservação da memória está sendo realizado por várias pessoas que estão registrando seus depoimentos no Blogue dedicado às comemorações dos dez anos de seu centenário. Valioso testemunho desse esforço de dar vida às sementes da cultura e do pensamento brasileiros semeadas por Nelson Werneck Sodré é relatado pelo professor e pesquisador da Universidade Federal do ABC, na área de história econômica, Vitor Eduardo Schincariol, que já escreveu, no Blogue Memória Viva, o texto ENCONTROS COM NELSON WERNECK SODRÉ. Nosso diálogo a seguir ilustra o esforço conjunto dele e de seus alunos. Em 13/01/2021, Vitor me escreveu: 

 “Cara Olga,

Saudações ituanas,

Queria dizer que chegou há pouco seu livro sobre Nelson W. Sodré e sua geração; ainda não tive tempo de lê-lo todo, mas achei ótimas a estrutura e a riqueza dos detalhes, incluindo as fotografias, cujo tratamento me pareceu muito sensível e que muito me alegrou.

Deu-me uma certa inveja de não ter vivido aquele período difícil, mas muito rico da história do Brasil, cabendo à minha geração amargar estes anos tão áridos.

Divulgarei seu livro entre meus alunos e alunas; inclusive, uma de minhas orientandas apresentará projeto de pesquisa de doutorado sobre o ISEB em 2021, em nosso programa de pós aqui da UFABC, com destaque para NWS. 

Terminei nesta semana 'Memórias de um Soldado', belo livro de memórias, com o qual se aprende muito; agora vou por 'Memórias de um escritor-1'; gostaria de perguntar a propósito disso, se possível: por que os volumes planejados 2 e 3 nunca foram escritos?

Obrigado desde já.”

Eu lhe respondi imediatamente: 

“Você não viveu naquela época, para poder desempenhar seu importante papel na transmissão dela para as novas gerações...

  Nelson não me disse porque não deu prosseguimento às memórias de um escritor, mas sei que ao terminá-lo, ele se empenhou muito no aprofundamento do marxismo, pois eu o ajudei fazendo a fichas dos autores e citações para os vários livros sobre seu enfoque desse método.

 Também se acirraram as lutas no meio militar e seu empenho no ensino da História, no ISEB, a História da Imprensa, etc. 

Seus livros a respeito da luta pela Cultura são um prosseguimento dessas memórias.

 Acho que meu livro pode ajudá-lo a compreender essa caminhada dele.”

 Fica assim evidente que professores e pesquisadores, como Caio Navarro de Toledo e Vitor Eduardo Schincariol, estão desempenhando um importante papel na formação das novas gerações, cuidando de 'plantas bebês' para que elas não sejam asfixiadas e deixem de germinar o pensamento brasileiro e a cultura nacional. Eles estão irrigando os trabalhos dos jovens pesquisadores com a seiva dos ricos conhecimentos e contribuições de Nelson Werneck Sodré. 

Fonte da imagem: 

http://www.unama.br/noticias/gestao-ambiental-porque-natureza-precisa-respirar

PARA VER NO FACEBOOK:

https://www.facebook.com/centrodeestudos.brasileiros/posts/3668271496586454

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Andrea Cristofoletti

 Excelentes ganchos com a realidade. Parabéns!

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MARCILIO MOREIRA

Olga, belos depoimento e reflexão! Abraço afetuoso, Marcílio.


MARIA DA PENHA VILLELA DE CARVALHO

O seu artigo me deu muita vontade mesmo de ler o livro do índio. Quando eu aí chegar vou comprar o livro dele. A questão ecológica da Amazônia concerne o mundo e não somente o Brasil… temos obrigação de salvar os nossos « índios ». Eles salvam o nosso meio-ambiente. Abraços agradecidos.

 

ANTONIO SERRA

Muito importante, Olga. Ficamos todos impactados com o que soubemos de Manaus. 

O Ar é um bem insubstituível e a fonte e base de muitos outros bens que nós prezamos. O que é a liberdade de expressão senão poder expirar em palavras as emoções e opiniões ou receber de outro humano as ideias e sentimentos que ele fez propagar pelo ar entre nós? Ou a arte quando toco a corda e o ar reverbera e leva suas vibrações aos ouvidos e corações que então suspiram, se desafogam, aspiram, se inspiram? Aristóteles dizia que a melhor cidade era aquela cuja dimensão permitisse ouvirmos os outros sem precisar de arauto, ali perto, na escala da capacidade do ar vibrar solidário. E Anaxímenes dizia que o ar é o princípio de tudo e quando ele se contrai e concentra dá nascimento às coisas sólidas, quando relaxa e dispersa dá origem à água, ao vapor e talvez à alma. E Pitágoras teria dito que no início foi a inalação do Infinito envolvente que introduziu o ar e o vazio que então separaram as coisas e geraram os seres do universo. O ar é o que permite o choro com que cada ser humano anuncia sua chegada ao mundo, ar que ele devolve em sua despedida. 

Neste drama dos brasileiros em Manaus não há como juntarmos socorro de mantimentos e roupas, como fizemos naqueles episódios antigos do incêndio no Paraná ou das enchentes no Rio. Mas o que devemos fazer é propagar as boas e corretas vibrações que levem alento e sobretudo que não se pode mais deixar o Brasil entregue ao obscurantismo, ao escárnio, ao sufoco. Mais Luz, Mais Ar.

 OLGA SODRE

Que lindo seu texto, Antônio!!!! Vou colocar no Blogue para outras pessoas poderem ler! Muito obrigada.

 

ANTONIO SERRA

Foi inspirado por seu texto ....

 

REGINA BRUNO

Obrigada!! Olga

SÉRGIO CALDIERI divulgou em sua rede de comunicação e eu recebi pelo e-mail do ISEB - NWS Nelson Werneck Sodré (ceb.nws@gmail.com) em 19/01/21.


COMENTÁRIOS PELO WHATSAPP:

MADRE MARTHA LÚCIA, OSB

Querida Olga, que excelente artigo, tão atual e ao mesmo tempo trazendo à nossa realidade esse belo legado deixado por seu pai! Fico feliz de conhecer esses testemunhos tão contundentes de professores que admiram profundamente as obras do seu pai e seu pensamento. Parabéns mais uma vez!!! Você tem o dom especial de iluminar todos ao seu redor!

 

MARCOS SABER

Gostei muito da sua maneira de abordar a asfixia da natureza e entrando na asfixia cultural. Só uma pessoa sensível e inteligente conseguiria fazer esta mixagem perfeita!!! Adorei os dois textos e realmente é preocupante o momento atual do homem com a natureza e do homem com a cultura, mas com pessoas sensíveis e sábias a oxigenação será feita de modo suave, lento, mas com certeza eficaz. Parabéns novamente!






 

 



[1] Kamuu Dan Wapichana, “Sopro da vida – Putakaryy Kakykary”, Editora Expressão Popular, São Paulo, 2020.

 


  

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