NELSON WERNECK SODRÉ E O PROTAGONISMO DAS MULHERES
NELSON
WERNECK SODRÉ E O PROTAGONISMO DAS MULHERES
TESTEMUNHO DE UMA ARDOROSA INTELECTUAL FEMINISTA
A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA
O recente reencontro com uma
antiga amiga dos anos setenta do século XX, Ceci Vieira Juruá, reavivou em minha memória um momento crucial da
História do Brasil, que tem muito a nos ensinar para melhor refletirmos sobre a
atual situação brasileira. Ela me
trouxe também a lembrança do significado das lutas femininas desse período e me
levou a perceber uma lacuna em meus relatos sobre a vida intelectual de meu
pai, Nelson Werneck Sodré, ao não ter aprofundado sua relação com o feminino,
em particular com minha mãe.
O ano de 1975 foi denominado o “Ano Internacional da
Mulher”. Naquele mesmo ano, aconteceu a Primeira Conferência Mundial da Mulher
com o lema “Igualdade, Desenvolvimento e Paz”, no México, e os 10 anos
seguintes receberam o título de ‘Década da Mulher’. Com
o retorno da democracia ao Brasil, as mulheres ganharam mais
protagonismo no governo pela criação, em 1985, do Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher (CNDM). Na eleição para a Assembleia Constituinte de 1987-1988, elas conseguiram, então,
26 cadeiras e lutaram pela inclusão de leis que favorecessem as mulheres.
Em 26 de agosto de 2021, Ceci me enviou um
e-mail sobre os legados trabalhistas de Getúlio Vargas com uma publicação
especial a respeito da PETROBRÁS, por ele criada em 3 de
outubro de 1953. Em minha resposta de agradecimento pelo material recebido,
eu menciono a publicação dos livretos em honra dos 110 anos de Nelson Werneck Sodré, e Ceci imediatamente difunde a notícia para sua rede de
amigos, valorizando o trabalho de resgate da obra dele e sua conexão com o
período em que ela me conheceu, no qual eu preparava um doutorado em
sociologia.
Ao transmitir esta notícia, ela cita um
texto que relembra a importante presença de Nelson Werneck Sodré no
cenário intelectual e político brasileiro, especialmente no século XX,
ressaltando a importância de um estudo cuidadoso e fundamentado de sua obra e
da sua participação para defender a democracia no Brasil. O texto relembra a
trajetória intelectual do autor, sua participação no Instituto Superior de
Estudos Brasileiros (ISEB), sua produção intelectual como crítico literário e
escritor, o fato de nunca ter participado de igrejinhas e o combate contra sua
obra nas universidades, especialmente por não ter sido professor universitário.
O texto por ela enviado o apresenta como
um ensaísta moderno com vasta erudição, menciona a reedição atual de suas obras
e a importância que as novas gerações possam lê-lo sem preconceito para com ele
aprender sobre os problemas decisivos que ele abordou “com rara sabedoria e
fundamentação teórica que poucos intelectuais tiveram”. Em resposta ao seu
e-mail, eu lhe pergunto se o texto que enviou é dela, propondo-me a divulgá-lo
com uma introdução sobre ela e seus trabalhos. Em 27/08, Ceci me
esclarece:
“Não é meu, mas hoje à
tarde quero fazer um texto sobre ele, para a lista dos desenvolvimentistas do
Rio... vou te mandar o texto meu à tarde, hoje."
Em 28 de agosto de 2021, ela me enviou o seu próprio texto, com
o seguinte comentário:
“Envio o texto - MEU - que acabo de escrever em homenagem ao
nosso precioso NWS. Um texto sincero, veio do fundo do meu coração.
Já te peço para orientar-me, como comprar o conjunto dos 30
livretos? onde ou a quem me dirijo?
Parabéns, Olga. Teu comportamento me emociona.
Sei que há a filha, mas há também a excelente socióloga e brasileira
nesse respeito e carinho pela obra de NWS.
Amanhã ou segunda envio-te meu mini curriculum. Será uma
grande honra para mim figurar nesse blog teu e de teu pai. Espero que
estejas bem, amiga.”
Lendo seu texto sobre Nelson Werneck Sodré, que publico
mais adiante, logo percebi que ela fez seus estudos universitários quase ao
mesmo tempo que eu. Eu me formei pela Fundação Getúlio Vargas em 1964, e fui
morar na França em 1966, enquanto que ela cursou a Faculdade de Economia
Cândido Mendes nos anos 1963/1966. Porém os pontos em comum não param por aí...
Nossas vidas se cruzaram em determinado momento da História brasileira e das
transformações do mundo, e, neste terreno vão sendo traçadas algumas linhas em
comum, que me parecem importantes de serem destacadas para mostrar como a
relação da dimensão intelectual e feminina foi sendo forjada e modificada ao
longo desse período.
Ainda no e-mail de 28 de agosto, Ceci delineia alguns dados de
seu percurso que revelam suas vigorosas raízes imersas no fecundo solo
brasileiro, cuja seiva alimentará sua vida feminina e intelectual de intenso
combate pela emancipação de nosso país e pelo protagonismo feminino:
“Sou gaúcha de Pelotas. Amo o meu Rio
Grande do Sul. Tive que sair de lá por questões de oportunidade de
emprego. Fiquei órfã de pai aos 15 anos.
Não tínhamos propriedade e ficamos, minha mãe, eu e meu irmão menor,
com uma pequeníssima pensão. Meu pai era um profissional liberal,
despachante aduaneiro. Pessoa maravilhosa, afetivo, filho de indígena da
região do Amazonas, o alto Juruá (o rio), de onde adotou o nome como
sobrenome. Fez isto em Santos, aos 10 ou 11 anos, quando tirou
uma certidão de nascimento para entrar no Colégio Santista. Sou
metade índia, metade ibérica. Típica brasileira.”
Este início de relato despertou em mim fortes lembranças do Rio
Grande do Sul, quando eu ainda era criança, num período muito antes de eu
conhecer Ceci. Foi esta lembrança que me trouxe à memória a figura de minha
mãe. Quando meu pai foi transferido, no início dos anos cinquenta, para Cruz
Alta, uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, ali vivemos alguns
anos muito felizes. Amamos essa terra, minha mãe principalmente.
Ela assumiu os ares gaúchos: adorava tomar chimarrão, conversar
nas rodas de amigos e discutir com muito ardor à moda gaúcha, que lhe evocava
suas raízes italianas. Minha mãe não largou esses hábitos, quando fomos
para o Rio de Janeiro, e anos mais tarde, nos anos sessenta, tornou-se uma
fervorosa fã do Governador Brizola. Meu pai tinha uma perspectiva política um
pouco diversa, mas apreciava o legado trabalhista de Getúlio Vargas e
respeitava as posições de minha mãe. Assim sendo, convivíamos todos muito bem,
em meio a animados debates políticos.
Aliás, aí do meu pai se não respeitasse o ponto de vista dela!
Ela tinha uma forte personalidade e, embora não fosse intelectual, fazia face
aos argumentos contrários. Em minha convivência com eles, percebi que se amavam
muito. Decidiam em comum sobre as diretrizes a tomar, e notei que algumas vezes
predominava a orientação de meu pai, mas em outras – como, por exemplo, a minha
educação ou as coisas da casa – predominava a decisão de minha mãe.
Os dois eram muito unidos e caminhavam sempre de mãos dadas.
Minha mãe - embora não seguindo as orientações políticas de meu pai - foi a
vida toda solidária com ele e se manteve sempre ao seu lado, mesmo nos momentos
mais difíceis das lutas dele – em particular, quando perdeu seus direitos
políticos, foi preso e até mesmo injustamente atacado, isolado ou esquecido.
Mas, a apaixonante história de Ceci, que me levou a essas recordações,
aborda outra questão fundamental relacionada ao trabalho feminino:
“Aos 18 anos me fixei no Rio de Janeiro, por ter sido convidada
a trabalhar na Air France. Fui muitíssimo bem tratada, e sempre penso que
tive muita sorte. Entrei como telefonista e saí, após seis anos,
secretária estenodatilógrafa bilíngue em português e francês. Eu me
orgulho muito desta ascensão, Olga, porque estudei sozinha a estenografia em
francês e a traduzi, por conta própria, para o português. Claramente
apoio a meritocracia.”
Este trecho me trouxe novas recordações sobre a postura de meus
pais relacionadas ao início de meus trabalhos, à questão da ‘meritocracia’ e à
autonomia feminina. Meu pai defendia com empolgação o trabalho feminino e
sublinhava sua importância para minha independência. Insistia muito para que eu
não procurasse resolver a questão do meu sustento por meio de um casamento de
conveniência, como era então costume.
Ele me falava das lutas históricas das mulheres, enaltecendo a
ideia de que a mulher deveria ser autônoma e fazer sua escolha matrimonial por
amor. Apesar de respeitar as opiniões e vontades de minha mãe, ele foi também
firme sobre a questão da minha indicação para conseguir um emprego. Ele se
recusava a me ‘apadrinhar’ junto aos seus amigos influentes. Minha mãe queria
que ele me ajudasse por meio dos importantes contatos que tinha, mas ele
argumentava que eu deveria lutar para conseguir as coisas pelos meus próprios
méritos.
Tal orientação foi fundamental em minha vida, pois comecei muito
cedo (antes mesmo de completar dezoito anos) a me lançar sozinha, propondo, por
exemplo, matérias culturais para jornalistas que eu conhecia. Eu abria mão do
ganho imediato para ter experiência de trabalho e poder assim ir abrindo um
caminho intelectual. Desse modo, logo no primeiro ano da faculdade, conquistei
um trabalho remunerado numa pesquisa da Fundação Getúlio Vargas.
Seguindo nessa linha, abri meu caminho como pesquisadora na
França, onde cheguei pelo meu próprio esforço a fazer parte da primeira turma
de psicólogos sociais que introduziu a pesquisa em psicologia na Faculdade de
Ciências Humanas Clínicas (Paris VII – Sorbonne). Acompanhando o relato
anterior feito por Ceci sobre suas atividades, verifica-se que ela seguia
semelhante orientação, tendo conseguido igualmente abrir caminho para a
conquista de sua emancipação pelo trabalho e pela incessante luta profissional
e política. Ela assim descreve o que teve que enfrentar a este respeito:
“Quando fui perseguida pelo DOPS, em 1964, em razão de uma certa
liderança no meio estudantil, fui candidata à presidência do Diretório, pela
esquerda - eu fiz o curso de Economia, à noite, na Universidade Candido Mendes-,
a diretoria e os colegas da Air France me protegeram e
apoiaram. Respondi a inquérito sobre a formação de um GRUPO DOS
ONZE. Liderança do Brizola, lembras?”
Não fiz parte do GRUPO DOS ONZE, mas eu era também líder
estudantil, no Rio de Janeiro nesta época, e me lembro da proposta de Brizola
para a atuação organizada em defesa das conquistas democráticas e
nacionalistas ameaçadas pelo clima de insegurança política e de ataques contra
o governo do Presidente João Goulart.
Ceci prossegue a narração de seu percurso nessa época, contando
como após se formar, em 1966, teve a ajuda de um diretor da Air France para
obter uma bolsa de estudos na França onde conseguiu elaborar um projeto de
pesquisa para o doutorado de Estado. Vivendo nesse país, ela não se desligou do
que acontecia no Brasil e deu apoio à FRENTE BRASILEIRA DE INFORMAÇÃO (FBI) que
denunciava a ditadura e as torturas em nosso país:
“Acredito que foi em 1970 que houve, no exterior, a
primeira grande denúncia dos crimes da ditadura brasileira, na igreja de Saint
Germain des Prés (Paris). Entrava um ator carregando uma cruz, preso por fios
elétricos. Símbolo da tortura. A seu lado Vanja Orico,
representando a mãe de Cristo. A igreja cheia. Tenho na lembrança os dois
entrando na Igreja, igreja cheia, todos de pé. Foi de arrepiar.
Quando voltei ao Brasil, em 1971, estava proibida de trabalhar
no Estado pelo SNI. Tive então que abandonar o sonho de seguir a
carreira de professora universitária e/ou realizar um concurso
público. Estava vetada!”
Por coincidência também voltei para o Brasil quase na mesma
época e partilhei o opressivo clima dos anos de chumbo e a depressão dos que
como Ceci e eu tínhamos sonhado com um país livre e emancipado:
"Entrei em profunda depressão", conta Ceci. "Tive
amnésia algum tempo, insônia, etc... Foi quando entrei para o IBAM.
Até hoje sou grata a Ana Brasileiro e a Vc, pelo carinho com que me
receberam. Eu havia deixado uma sociedade absolutamente democrática, a
França, e me encontrava mergulhada em uma feroz ditadura. Ninguém conversava
francamente. Um ambiente de medo generalizado. E eu tive medo,
muito medo. Daí a amnésia, esqueci o que havia aprendido de Marx e correntes
aparentadas! Depois da fusão, no governo Geisel, fui liberada para entrar
na Cia do Metropolitano do Rio de Janeiro."
Ela se refere à fusão do estado do Rio de Janeiro e da
Guanabara, que pesquisei, quando trabalhávamos no IBAM. Utilizei o material
desta pesquisa para preparar um doutorado em sociologia, quando voltei para a
França, em meados dos anos setenta. Não suportava também a
sufocante atmosfera brasileira da época e as terríveis informações sobre o que
se passava nos porões da ditadura. A maioria da população brasileira vivia
tranquilamente convivendo com as injustiças sociais e a falta de liberdade de
expressão, sem tomarem conhecimento do que ocorria nesses porões, mas tudo isso
era muito doloroso para os que tinham conhecimento das torturas e mortes.
Ceci prossegue seu relato político contando, então, como
participou ativamente da luta pela redemocratização do Brasil e por uma
Constituição democrática:
“Tentamos montar um programa democrático de Transportes para a
Constituição Cidadã. Implantei o vale transportes no estado do
RJ. Defendi a gratuidade para idosos. Não conseguimos o
passe para os desempregados.”
Nesse período, eu não estava mais no Brasil. Vivia e trabalhava
na França, onde me integrei e participei dos movimentos políticos de 1968, só
retornando ao nosso país nos anos oitenta, quando tomou impulso a reabertura
democrática.
Ceci encerra seu testemunho voltando a falar de sua experiência
feminista, como ‘uma mulher livre’, apegada à honra (como boa gaúcha), à
dignidade e ao amor:
“Meus melhores amigos eram homens, e eu os tratava com
fraternidade pois vinha de uma família onde tive três irmãos homens e
nenhuma mulher. Creio que veio daí a facilidade de me relacionar
com homens. Mas hoje, no que chamo velhice e com um pé do lado de
lá, tenho grandes amigas, gosto das mulheres lutadoras, estudiosas - as
guerreiras. Como Vc, Olga.
Sempre estudei e li muito. Nacionalista sempre fui.
Desde a barriga. Nasci no ano em que os soviéticos entraram na
guerra contra a Alemanha nazista, resistindo e vencendo a batalha de
STALINGRADO. 1942-43. No curso de Economia fui a única mulher durante os
dois primeiros anos. A primeira mulher e economista presidente de uma
autarquia de Transportes (tratava-se de ambiente majoritariamente masculino e
cujos cargos técnicos eram ocupados preferencialmente por engenheiros).”
Ceci arremata seu relato falando de seu gosto pela cultura e de
sua admiração pelos povos originários, em particular sua admiração por KRENAK,
o primeiro grande historiador indígena reconhecido socialmente. E conclui
destacando sua realização feminina como mãe e avó:
“O Momento mais feliz da minha vida - o nascimento de Mayra, em
1979. Fui mãe solteira com direito a ter sogra, sogro, etc. Eu e o
pai de Mayra estivemos juntos por quase dois anos. Mas os gênios
não combinaram. A partir da separação criei minha filha sozinha, e acho
que deu certo. Igualmente feliz me senti com o nascimento dos netos
- Vicente (quase 16 anos), e Flora, com 11 anos.”
Assim termina o belo depoimento de Ceci Vieira Juruá –
brilhante representante de nossa combativa geração feminina – que nos
brinda, a seguir, com sua reflexão sobre Nelson Werneck Sodré e com sua
divulgação da contribuição dele em suas redes de amigos.
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REFLEXÃO E DIVULGAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO DE NELSON WERNECK SODRÉ
CECI VIEIRA JURUÁ
Desde os anos 1963/1966, quando cursei a Faculdade de Economia Cândido Mendes, localizada na tradicional Praça XV do Rio de Janeiro, as obras de Nelson Werneck Sodré ocupam lugar de destaque em minha formação. Li e reli algumas muitas vezes o substancial FORMAÇÃO HISTÓRICA DO BRASIL. Este livro, como explica o próprio autor, “é o resultado direto de um curso, o de Formação Histórica do Brasil, por mim professado no Instituto Superior de Estudos Brasileiros [ISEB], desde 1956.” Nosso precioso ISEB, fechado pela ditadura militar logo após o golpe de Estado de abril de 1964.
Em 1990, FORMAÇÃO HISTÓRICA DO BRASIL estava em sua 13ª edição. No último parágrafo dessa obra de quase 500 páginas, lemos:
A composição das forças no quadro mundial, como a composição das
forças no quadro interno, mostra que as perspectivas da Revolução Brasileira
são as mais amplas. (...) Para que tal ação possa desenvolver-se, a
manutenção e a ampliação do regime democrático aparecem como imperiosa
necessidade. A emancipação do Brasil não é uma tarefa conspirativa, mas a
empresa de todo o povo.
Fica claro, nesse curto parágrafo, as razões da afeição que se
cristalizou entre NWS e aquela parcela eternamente majoritária do povo
brasileiro, a que ama a liberdade e a democracia, e é movida por um sincero
amor à Terra, à Pátria e à cultura nacional.
Além de ser um autor com excepcional número de obras editadas,
mais de cinquenta, no campo das Ciências Humanas, e constantemente reeditadas,
NWS destaca-se pelo papel que desempenhou na tentativa de estruturação de uma
História Nova do Brasil a fim de ser contada, “com maior rigor” aos próprios
brasileiros. Principalmente porque, dizia ele em 1986, no prefácio de HISTÓRIA
DA HISTÓRIA NOVA:
... está por ser escrita a história do tenebroso período
iniciado com o golpe militar de março de 1964, vitorioso em 1º de abril.
É possível que a história desse período comporte pelo menos três fases, a
inicial de 1964 a 1968, (...); a média, de 1968 a 1974 (...); a final, de 1974
aos nossos dias, quando o regime entrou no declínio a que foi dado o título
muito discutível de “abertura”. Os episódios constantes deste livro
fizeram parte da primeira destas fases, que já anunciava, nos seus propósitos e
nos seus métodos, o que viria depois e que constituiria o período mais negro da
história brasileira, perto do qual a época de D. Maria I, a Louca, a que mandou
esquartejar Tiradentes, não passou de brincadeira de crianças travessas.”
Destaco ainda, no conjunto mais restrito de suas obras de
Economia Política, o livro intitulado INTRODUÇÃO À REVOLUÇÃO BRASILEIRA.
Para mim, este livro constitui, juntamente com FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL de
Celso Furtado, duas pérolas das nossas Ciências Sociais, pois cultivadas com
base em conceitos centrais do materialismo histórico e dialético.
Merece reedição, pois ali se entende corretamente, com muita clareza,
quais podem ser as bases e o horizonte de uma REVOLUÇÃO BRASILEIRA democrática,
nacionalista e popular.
Para NWS aquela ditadura que resultou do golpe de 1964
inseriu-se no processo da Revolução Brasileira apenas como episódio, sem
conseguir paralisar o processo, pois este prosseguiu com ela, apesar
dela, contra ela; superada esta etapa será retomada, em nível mais alto e é bem
possível que com significativa mudança qualitativa.
Esta mensagem de NWS, de 1967 [1], é válida até
hoje para todos que, como eu, consideram que o golpe contra Dilma Rousseff,
primeira mulher eleita Presidente da República no Brasil, foi a continuação
daquele golpe de 1964 - que havia sido anunciado dez anos antes, contra
Vargas, o líder da primeira Revolução Brasileira, popular e democratizante, em
1930.
Percebe-se claramente que é hora de reler o conjunto da obra
deste grande pensador que foi NELSON WERNECK SODRÉ. Felizmente está sendo
lançada uma edição de comemoração ao 110º aniversário do autor com 30 textos
publicados em belos livretos, coloridos, com fotos, organizados com o carinho e
amor filial da socióloga OLGA SODRÉ.
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Em 5 de
setembro de 2021, Ceci envia para sua rede de amigos um e-mail no qual
apresenta meu livro sobre a vida e a obra NWS como imperdível, por ter sido ele
um dos primeiros historiadores brasileiros a aprofundar o papel dos meios de
comunicação de massa na ideologia e prática política dos brasileiros,
destacando alguns trechos do prefácio de Sérgio Caldieri sobre o livro. No
mesmo dia, lhe agradeço por e-mail, e ela me responde imediatamente:
“VC TEM A QUEM SAIR, QUERIDA AMIGA, OLGA. TEU PAI FOI UM JOVEM
LINDÍSSIMO, SOB TODOS OS PONTOS- DE-VISTA.
Enviei todas as notícias sobre NELSON WERNECK SODRÉ e o ISEB,
também para Rosa Furtado, viúva do Celso. Ela gostou e ficou grata.
Agradeço muito, fico até comovida, vc ter incluído meu nome
entre os que homenageiam NWS neste ano, o 110°!
Há aproximadamente 50 anos nós nos encontramos. No
IBAM. Que tempos duros, Olga querida. Sofríamos, sem poder chorar.
Eu também já tive câncer duas vezes, mas retirei, foi no intestino. Vc sempre
muito ética e muito culta. Quem sabe ainda nos vemos... Dê
notícias. Fique bem.”
De fato, ainda em 5 de setembro, Ceci escreve para seus amigos
sinalizando com alegria a retomada dos estudos sobre ‘nosso valioso ISEB - INSTITUTO
SUPERIOR DE ESTUDOS BRASILEIROS’. Nesse e-mail, ela divulga o recente dossiê
temático “O ISEB e o desenvolvimento nacional”[2]. Reunindo trabalhos inéditos
de pesquisas e ensaios teóricos, o dossiê contribui para contextualizar o papel
do movimento político-intelectual organizado em torno deste Instituto, a partir
da segunda metade da década de 1950:
“O... ISEB congregou a parcela da intelectualidade que mais se
destacava na luta (teórica e prática) pela transformação da realidade
brasileira. O ponto de coesão de nomes como Roland Corbisier, Nelson Werneck
Sodré, Álvaro Vieira Pinto, Guerreiro Ramos, Anísio Teixeira e Ignácio Rangel,
entre outros, era a formulação de um pensamento que buscasse corresponder às
necessidades do país e que servisse ao desenvolvimento nacional — ou seja, à
superação dos entraves a esse desenvolvimento, à superação da dependência.”
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FONTE DA IMAGEM:
PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA: https://www.todamateria.com.br/feminismo-no-brasil/
PARA VER NO FACEBOOK:
https://www.facebook.com/centrodeestudos.brasileiros/posts/4364325153647748
Cordialmente,
Doutora em Psicologia
Clínica e Filosofia,
com pós-doutorado
pelo Instituto Católico de Paris
e pelo Instituto
de Medicina Social (UERJ)
[1] INTRODUÇÃO À REVOLUÇÃO
BRASILEIRA, RJ: Ed. Civilização Brasileira, 1967 (p. 256)
[2] O
dossiê foi publicado na edição
162 da revista Princípios de julho/out de
2021: https://revistaprincipios.emnuvens.com.br/principios/issue/view/5
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