7. RELATO DO EDITOR DE ASSUNTOS NACIONAIS DO HISTÓRICO JORNAL MOVIMENTO

 RELATO DO EDITOR DE ASSUNTOS NACIONAIS DO HISTÓRICO JORNAL MOVIMENTO

CAPA DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO JORNAL MOVIMENTO

 (7 DE JULHO DE 1975)


 

 É interessante ver como uma história puxa a outra, e o fio das narrações vai se desenrolando: o depoimento do escritor Flávio Aguiar trouxe a participação do escritor Sérgio Buarque de Gusmão, cujo comentário enriqueceu igualmente o Blogue de Nelson Werneck Sodré. Há aqueles que participam pontualmente deste blogue, mas há também aqueles que continuam solidários e prosseguem participando de suas novas postagens com seus comentários, como Sérgio Buarque de Gusmão.

Em 17 de novembro de 2020, Sérgio Buarque de Gusmão escreveu o seguinte comentário na postagem do texto de Flávio Aguiar no FACEBOOK:

Fui editor de Assuntos Nacionais do jornal Movimento, que tinha NWS como um de seus mais respeitáveis colaboradores. Tinha por ele admiração intelectual, por sua obra ciclópica, decisiva em minha formação, como, também, por livros de inspiração do caráter, a exemplo de Memórias de um escritor – do qual muito esperei pelo segundo volume. É boa nova essa de que haverá um blogue para reverenciar sua obra e memória de historiador rigoroso, militar íntegro e cidadão exemplar. ”

 

O livro que escolhi para ser lançado na comemoração do centenário de Nelson Werneck Sodré foi justamente Memórias de um Escritor. Logo senti, portanto, que tinha uma conexão literária com Sérgio Buarque de Gusmão. O Centro de Estudos Brasileiros Nelson Werneck Sodré (CEB-NWS) fez uma edição especial deste livro para o centenário, em 2011. Na reunião preparatória para um evento organizado pela Academia Brasileira de Letras em homenagem ao centenário dele, presenteei cada acadêmico com um exemplar deste livro. Assim sendo, pareceu-me que tinha tudo a ver convidar Sérgio Buarque de Gusmão para participar do Blogue. E lhe pedi que me enviasse alguns dados dele para apresentá-lo aos leitores. Ele me respondeu:

Será uma honra... Além de editor de Assuntos Nacionais do semanário Movimento, fui editor das revistas Veja e IstoÉ, chefe de redação em São Paulo de O Globo e Jornal do Brasil, diretor da agência de Notícias do Jornal do Brasil (AJB) no Rio, e editor-executivo de O Estado de S. Paulo e editor da revista Bonifácio. Sou autor de Nova História da Cabanagem (Amazon, 2016).

Sua resposta me motivou a rever um pouco da história do jornal Movimento, tendo em vista sua participação na equipe de jornalistas que o criaram. A história deste jornal reflete um importante momento da História do Brasil, em que ocorreu um grave cerceamento da liberdade de expressão. Diante desta situação, esses jornalistas demonstraram grande dignidade e coragem de enfrentamento e resistência intelectual. Como o Brasil vivia em pleno regime de exceção, o jornal Movimento traz desde sua criação esta marca de resistência e luta intelectual. O Movimento foi um jornal alternativo sem grandes recursos para assegurar sua sobrevivência num ambiente absolutamente adverso. Sua equipe enfrentou com bravura a censura, o bloqueio de publicidade e até mesmo a violência de atentados e agressões.

Nesse contexto, esse grupo de jornalistas - entre eles Flávio Aguiar e Sérgio Buarque de Gusmão - conseguiu defender com destemor e audácia as mais imprescindíveis reivindicações democráticas, trazendo à tona vários temas que geraram debates enriquecedores. Carlos Alberto de Azevedo, que foi o coordenador de um trabalho de pesquisa sobre o jornal Movimento[1] considera que ele foi uma das mais extraordinárias criações das manifestações democráticas e populares brasileiras na luta contra a ditadura militar dos anos 1964-1984, que soube enfrentar a censura da Polícia Federal e a repressão policial aos periódicos mais combativos.

O jornal Movimento foi um exemplo do esforço intelectual brasileiro visando a união das diversas correntes do campo democrático-popular.  Considera-se que Movimento foi, além disso, um semanário de alta qualidade. Essa experiência jornalística pode nos servir de exemplo para a união de forças no atual cenário brasileiro. Com a queda da censura, o jornal Movimento cresceu, mas diante do recrudescimento da violência, já anteriormente narrada no blogue por Flávio Aguiar, ele perdeu impulso e foi fechado. Estou publicando no blogue da Memória Viva de Nelson Werneck Sodré esta experiência exemplar, da qual meu pai também participou, na esperança de continuar a ampliar o debate sobre a importância do papel dos escritores, jornalistas e intelectuais democráticos na transformação social de nosso país e na consolidação de sua democracia.

 

FONTE DA IMAGEM[2] 

 

ESTE TEXTO NÃO FOI POSTADO NO FACEBOOK DO CENTRO DE ESTUDOS BRASILEIROS-NELSON WERNECK SODRÉ EM FUNÇÃO DO ACÚMULO DOS TEXTOS PUBLICADOS NO INÍCIO DO BLOQUE. POR ISSO NÃO HÁ COMENTÁRIOS OU APRECIAÇÕES SOBRE ELE, NO FACEBOOK OU EM MINHAS REDES DE CONTATO.

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