14. A LUTA PELO MEIO AMBIENTE E SUA TRANSMISSÃO ENTRE AS GERAÇÕES

A LUTA PELO MEIO AMBIENTE E SUA TRANSMISSÃO ENTRE AS GERAÇÕES

- A HISTÓRIA DAS QUEIMADAS NO BRASIL-



PROPORÇÃO SEM PRECEDENTES DAS QUEIMADAS NO BRASIL



Antônio Serra, professor aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF), me contou que descobriu o pequeno texto "Queimada" escrito por Nelson Werneck Sodré porque estava procurando na coleção da Revista de Geografia um artigo de seu pai, que sempre publicava artigos sobre Meteorologia, nesta revista. Além de muito atual, a descrição das queimadas no Brasil traçada neste texto veio, portanto, inserida no contexto da relação que nos liga aos nossos pais e ao papel que desempenham em nossa formação e em nossas realizações.

Esse fato chamou minha atenção ao ler a descrição que Antônio apresenta de como seu pai sempre relatava e comentava tanto fatos da história como acontecimentos políticos. Meu pai, Nelson Werneck Sodré fazia o mesmo, lá em casa, sempre nos entretendo com o desenrolar da vida social brasileira e internacional.  Será que os pais atuais ainda transmitem aos seus filhos a memória viva da História na qual estão inseridos ou os mantêm alheios aos eventos em curso no Brasil e no mundo em que vivemos?

Antônio ressaltou para mim como ocorreu o papel de seu pai na história do documentário por ele escrito e já apresentado no Blogue “MEMÓRIA VIVA DE NELSON WERNECK SODRÉ, texto 13. UMA REFLEXÃO SOBRE GOLPE E DITADURA. Ele narra o fato de seu pai contar que Café Filho, quando deputado e oposição a Getúlio, costumava concluir seus discursos com a frase -- "Lembrai-vos de 37!", e conclui: “Quando pensei neste documentário, em 1986, tinha em mente os 50 anos do golpe de 1937 e a coincidência de estarmos começando uma Constituinte para encerrar a ditadura militar. E o título do documentário, é claro, veio da frase que meu pai lembrava sempre.”

Ele arremata sua indicação a respeito da transmissão da História entre as gerações, indicando como seu pai acabou participando de seu documentário. Ele conta que o diretor do documentário, Wilson Paraná, achou importante entrevistar, além de personalidades da política e de estudiosos, pessoas comuns. Antônio aí sugeriu o nome de seu pai, que deu então seu depoimento, inclusive sobre a vivência dele no dia mesmo do golpe.

Como militar, Nelson Werneck Sodré viajou por todos os recantos do Brasil, e foi sempre muito interessado pelos problemas do povo e do meio ambiente onde viviam, tendo escrito vários textos sobre a História e a Geografia brasileiras. Na diretoria do Departamento Cultural do Clube Militar, ele não só escrevia em defesa da ‘campanha do petróleo é nosso’, mas de outras riquezas naturais do país. Em casa, ele nos descrevia a beleza da Serra da Bocaina, da Amazônia, do Pantanal ou do Nordeste, destacando a luta e a contribuição das populações de cada um desses lugares.

Assim sendo, considero que ele foi um precursor da luta pelo meio ambiente, como podemos vislumbrar por suas observações a respeito das queimadas, no texto a seguir publicado na REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA, janeiro-março de 1962 (Ano XXIV-N. 1), p. 135.

Fonte da imagem: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/bbc/2020/09/23/amazonia-agricultores-causam-maioria-das-queimadas-e-nao-indios-e-caboclos-diz-cientista-carlos-nobre.htm

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TIPOS E ASPECTOS DO BRASIL


A QUEIMADA


Data dos primeiros tempos da colonização, isto é, do início da atividade estável e contínua que permitiu o estabelecimento do europeu em nossa terra, o hábito da queimada, que a maioria dos autores admite ser herança do indígena. De qualquer forma, como a atividade agrícola se estabeleceu, aqui, nas zonas litorâneas em que o revestimento era importante, e não nas zonas de campo, houve a necessidade, desde os primeiros tempos de preparar a terra para a agricultura. A queimada permitia reduzir os esforços e apressar os prazos. Mais do que herança cultural, evidentemente, foi a permanência da atividade agrícola, entre nós, em nível rudimentar que assegurou a continuidade e a generalidade. do hábito, característico de pobreza de recursos e de técnicas, traços de uma atividade· rural que guarda um sentido predatório, e a que só por eufemismo se poderia batizar de agricultura. Com o passar dos séculos, a limpeza do terreno para a plantação passou a subordinar-se a quatro operações - a roçada, a derrubada, a queimada e a coivara-, e a sequência se generalizou e foi mesmo adotada nas zonas coloniais, aquelas em que o povoador oriundo de áreas agrícolas europeias poderia seguir outra norma. A carência de recursos iniciais impôs a subordinação à técnica antiga, e a queimada constitui espetáculo normal em todos os cantos do país, mesmo onde o revestimento não a exige ainda, como solução para a deficiência de braços e de utensílios. "Assisti a uma queimada colossal na serra do Carmo (Piabanha, estado de Goiás), - escreve JÚLIO PATERNOSTRO. À noite, a grinalda de fogo dava a impressão de um vulcão. Procurei investigar o motivo da queimada, pois o gado não ia até lá para pastar a gramínea que cresce após a coivara. Um sertanejo deitara fogo no mato porque de sua casa, em Piabanha, era bonito apreciar o espetáculo do incêndio." O hábito é tão enraizado que ganhou o folclore e a própria poesia. CASTRO ALVES descreveu a queimada em versos candentes:

 "O estampido estupendo das queimadas

Se enrola de quebradas em quebradas

Galopando no ar."

Paga o solo, como os estudiosos apreciam, de há muito, ganhando devagar os agricultores para a aceitação de novas normas.

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General Nelson Werneck Sodré sempre brilhante e atualíssimo.

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Nelson Werneck Sodré sempre tão atual com a nossa história. Textos escritos há 30 anos retratam o Brasil atual. Paulo Farinha

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SÉRGIO CALDIERI divulgou em sua rede de comunicação e eu recebi pelo e-mail do ISEB - NWS Nelson Werneck Sodré (ceb.nws@gmail.com) 19/12/20.

 

ANTONIO SERRA, logo depois em 30/12

Oi, Olga, contei para meu amigo Drauzio Gonzaga o que você vem fazendo em torno do blog NWS e ele ficou muito interessado em ver de perto o trabalho e principalmente em falar com você.

OLGA SODRE entra em contato com DRAUZIO MACEDO em 30/12:

Boa tarde, Drauzio!

Antonio Serra me disse que você ficou interessado pelo trabalho que venho fazendo em torno do blogue NWS, em ver de perto esse trabalho e principalmente em falar comigo. Será um prazer estabelecer contato com você.

 

DRAUZIO MACEDO responde em 1 de janeiro de 2021

 

 

 

Tudo bem, Olga? Quanto tempo e quão boas lembranças de você quando colaborava conosco no Socii. Estou interessado sim e Serra me passará os contatos. Abraços saudosos e torcendo para poder nos reencontrar presencialmente.

 

OLGA SODRE responde em em 1 de janeiro de 2021

 

 

Maravilha essa ligação nossa com o SOCII, Dráuzio!!!

Caso se sinta inspirado envie para mim um testemunho seu sobre a obra de Nelson Werneck Sodré.

Vamos caminhar unidos em 2021! Abraço saudoso,

ANTONIO SERRA escreve em 19/12/20

É sempre bom descobrir como questões candentes do presente já faziam parte da preocupação e reflexão de pessoas ilustres de um passado que parece muito longínquo.

Mas é sinal dos tempos. "Naqueles tempos" a exigência de extrema especialização era bem menor e, ao contrário, se esperava de bons intelectuais capacidade de lidar com assuntos diversos e depois foram dados como estranhos entre si. Claro que isso facilitava muitas vezes o improviso e declarações sem fundamento. Mas houve muitos intelectuais que nem abusaram desse encargo público e procuraram se pronunciar depois de estudar, refletir e consultar os especialistas.

O importante é que eles não achavam nada estranho ou alheio -- tudo era importante e merecedor de consideração, desde que inteligente, respeitosa e honesta intelectualmente -- como na citação que Marx fez do poeta romano Terêncio: nada do que é humano me é estranho.

Tanto isso foi importante que mais recentemente se começou a sentir falta dessa maneira de olhar o mundo. De fato, hoje em dia a maneira de atender a essa demanda é a cooperação de estudiosos em áreas diferentes que tenham disposição de interagir com abertura e rigor, uma vez que vai ficando patente que a complexidade é um aspecto essencial da realidade, natural e humana.

 

OLGA SODRE responde para ANTONIO AGRADECENDO AS RELEVANTES CONSIDERAÇÕES, QUE SERÃO INTEGRADAS AO BLOGUE

 

SILVIA BRASIL

Estou fazendo uma rearrumação dos meus livros e entre eles muitos de Nelson Werneck Sodré: Memórias de um Soldado, A História da Imprensa no Brasil, História Militar do Brasil, A Coluna Prestes, O Outro Lado do Poder, Fundamentos do Materialismo Dialético etc, etc… e naturalmente o seu livro, A Odisseia de um General do Povo Brasileiro!!! 

Mas o que mais me choca no texto que você enviou é esta frase: 

Um sertanejo deitara fogo no mato porque de sua casa, em Piabanha, era bonito apreciar o espetáculo do incêndio."

Tem alguma coisa muito errada acontecendo, um sertanejo que vive da terra apreciar o fogo no mato???

IVAN ALVES FILHO

Bom dia, Olga. Fundamental esse resgate da grande obra do seu pai. Você está de parabéns. 

MARIA VILLELA-PETIT

Olga, que mensagem importante. As queimadas no Brasil, que estão destruindo as florestas, são um crime ecológico e contra a humanidade não apenas contra os brasileiros. A multiplicação de doenças se espalha e vai continuar a se espalhar.

MICHELLE QUEIROZ DE MORAES

Que texto atual e brilhante. Viva Nelson Sodré.

 

ANGELA ARRUDA

Excelente, amiga!

COMENTÁRIOS PELO WHATSAPP: 

MIGUEL MAHAFOUD👍👏👏

MARCOS SABER

Ao ler este texto fiquei imaginando como Nelson Werneck Sodré escreveria aos jornais de hoje.  

Com certeza estaria "ardendo" de tristeza por dentro como as queimadas. 

Seria um momento especial ouvi-lo sobre o Brasil e o mundo que vivemos hoje.


Quanto aos jovens sinto que cada vez mais estão se desinteressando por histórias do passado. Posso estar enganado mas só voltarão a se interessar pelas histórias passadas se as escolas incentivarem a cultivar a cultura brasileira. 

Façamos a nossa parte em plantar a boa semente da História do Brasil e divulgar  o nome daqueles que se fizeram grandes homens e mulheres.

Gostei Olga. Sempre muito bom para aprendermos e para refletir.


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