16.GUARDIÕES DA MEMÓRIA: RELAÇÃO VITAL ENTRE PASSADO, PRESENTE E FUTURO
GUARDIÕES DA MEMÓRIA: ELO VITAL ENTRE PASSADO, PRESENTE E FUTURO
- SENTIDO ATUAL DO LEGADO DE NELSON WERNECK SODRÉ-
“Ser ‘guardiões da memória’ significa mais do que
recordar e aprender com acontecimentos do passado; significa extrair os
recursos espirituais para enfrentar, com clarividência e determinação, as
esperanças, as promessas e os desafios do futuro.” (Papa Francisco aos Bispos da
Coreia: sejam guardiões da memória e da esperança – 15/08/2014)
Pareceu-me
esclarecedor abrir o ano de 2021, no qual estamos comemorando o decênio do
centenário de Nelson Werneck Sodré, com um texto que introduz a questão
dos Guardiões da Memória, num empolgante relato de como isso
aconteceu no caso da preservação da memória viva dele É sempre uma grande
alegria encontrar um jovem pesquisador que demonstra a alta qualidade do ensino
e da pesquisa científica no Brasil. E foi o que aconteceu no meu encontro com
Roberta Vasconcelos Leite[1],
que redigiu, em 2015, a tese EXPERIÊNCIA ONTOLÓGICA E TRADIÇÃO NA EXPERIÊNCIA DE
GUARDIÕES DE MEMÓRIAS para o Programa de Pós-graduação em Psicologia da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas
Gerais, na área de Psicologia Social. Ela foi orientada pelo Prof. Dr. Miguel
Mahfoud, então responsável pela linha de Pesquisa: Cultura, Modernidade e
Subjetividade.
Em 30 de julho de 2013, Roberta
escreveu me convidando para participar de sua pesquisa de doutorado[2]. Fui por ela
escolhida juntamente com três outras pessoas para seu estudo sobre os guardiões
da memória:
“A terceira participante de
nossa pesquisa, a psicóloga e professora Olga Regina Frugoli Sodré, empreendeu
trabalhos voltados à promoção da memória da intelectualidade brasileira das
décadas de 1950 e 1960, tendo como mote o centenário de nascimento de seu pai,
o general Nelson Werneck Sodré, que foi um dos mais importantes teóricos
marxistas desta geração.” (p. 122 da tese)
Os resultados da pesquisa foram
apresentados de modo a situar nosso encontro e contextualizar a narração do meu
processo de envolvimento com o cuidado da memória de Nelson Werneck Sodré. Em
seguida, ela realizou a análise destes dados, buscando pôr em evidência como as
compreensões por ela alcançadas dialogaram com o referencial teórico escolhido
e como foram enriquecidas no confronto com as proposições de Walter Benjamin
sobre a relação entre as gerações[3]. A escolha de um
diálogo com este pensador alemão foi particularmente adequada em relação ao meu
trabalho de preservação da memória. Ressalto isto não apenas tendo em vista
suas ideias sobre a transmissão da memória entre as gerações, mas também por
meu apreço por toda sua caminhada teórica: ele foi inspirado tanto por grandes
intelectuais marxistas (em particular, Bertolt Brecht) como por místicos judaicos.
A pesquisadora Roberta Vasconcelos Leite me entrevistou em minha
residência, em Copacabana, no Rio de Janeiro, em agosto de 2013, como narra no
início de sua apresentação sobre mim e sobre o encontro que teve com
pesquisadores de Nelson Werneck Sodré, por ocasião de sua visita ao Acervo
desse historiador na Biblioteca Nacional[4]. Ela
conclui a narração deste encontro, convidando à reflexão sobre o desconhecimento atual da
figura de Nelson, não obstante tratar-se de personagem tão singular da história
brasileira.
Ela introduz a apresentação dessa
experiência de cuidado da memória a partir da escuta de meu relato pessoal, que
situa Nelson Werneck Sodré como uma figura importante de sua época: os anos
1950 e 1960. Este período correspondeu ao auge de uma certa intelectualidade
brasileira que participava diretamente dos destinos do país até o golpe de
1964. Contei-lhe como, então, o Brasil vivia os “Anos Dourados”, uma época de
desenvolvimento e de expansão, na qual se formou a cultura brasileira; e como
ele influenciou na formação e integração de várias atividades culturais:
cinema, teatro, literatura, política, etc. Descrevi como ele participava da
reunião de intelectuais que deram origem a uma nova forma de teatro, ao Cinema
Novo (com Alex Viany, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor), ao aperfeiçoamento da
narração esportiva com João Saldanha e da novela com Dias Gomes. Ressaltei a
importância desse movimento cultural, mostrando como seus protagonistas vinham
consultar meu pai, que tinha a visão global do desenvolvimento da cultura
brasileira e pensava muito adiante as coisas... (p.123-124)
Após eu desenvolver e concluir minha
narração, relatando os acontecimentos da época e do Centenário de Nelson
Werneck Sodré, assim como minhas reflexões pessoais a esse respeito (pp.
123-1390), Roberta Vasconcelos Leite
faz uma excelente análise de minha experiência, buscando clarificar
como eu realizei a obra de cuidado da memória de meu pai, materializada nos
trabalhos para a celebração do centenário dele. Para isso, ela delimitou os
temas que emergiram como mais significativos na elaboração da minha experiência
do ser e da tradição, de modo a fundamentar como esses dois processos se
relacionaram em minha experiência, descrevendo-a com grande acuidade:
“Mais que uma série de eventos e
reedições de livros, Olga nos apresenta seu trabalho em torno do Centenário de
Nelson Werneck Sodré como um esforço para que não se perca a história de uma
época. Por meio da exaltação de uma personalidade excepcional – militar que foi
o maior teórico marxista de sua geração, homem muito íntegro e pensador
humanista de ampla visão – a promoção de sua memória se constitui como chave de
acesso ao que foram os Anos Dourados, quem foram os intelectuais brasileiros
das décadas de 1950 e 1960, o que foi o Exército antes do golpe de 1964. A
figura Nelson merece ser conhecida e, como ícone de seu tempo, conhecê-lo
permite desvendar muito do auge de uma cultura abrangente que merece ser
igualmente admirada.
Tendo criado o ISEB – NWS para a
resolução de questões editoriais da obra de seu pai, em certo momento Olga
percebeu a necessidade de ampliar sua mirada e dedicar-se à promoção da memória
dele na ocasião do centenário do seu nascimento. Assim, envolvendo pessoas e
instituições nesta celebração, o trabalho dela buscou também evidenciar o valor
do que acontecia e do futuro que se forjava nos Anos Dourados, bem como
denunciar o aborto operado pela ditadura para interromper o curso da história.
Aquele momento efervescente não teve sua continuidade em virtude de um empenho
deliberado para soterrá-lo, daí a necessidade de uma verdadeira luta para
possibilitar que as novas gerações tenham memória e orgulho da própria história.
Desvelando uma época caracterizada
pelo diálogo fecundo entre diferentes áreas, o Centenário também foi proposto
de modo a integrar vertentes díspares, envolvendo instituições e pessoas que
não necessariamente compartilhavam das mesmas ideias e ideais do “General do
Povo”. Empenhada em buscar fazer com todos e para todos, Olga tomou como ponto
de partida os contatos com amigos, encontrando ressonância inicialmente em meio
aos jornalistas. Apostando nas portas que se abriam, seguiu contando com os amigos
na tentativa de envolver as grandes instituições. Até que fatos inesperados
aceleraram o processo: um amigo se torna secretário de cultura e surge a ideia
do Ano Nelson Werneck Sodré em Itu. O movimento do outro se soma aos seus
esforços, viabilizando a tão almejada comemoração, os eventos, as homenagens,
os relançamentos, a repercussão na mídia e nas pessoas, a retomada da obra por
parte de alguns historiadores.
Como continuidade desse projeto, os
direitos autorais das obras de Nelson foram colocados em domínio público e a
Biblioteca Nacional autorizada a disponibilizá-las em versão digital. Como
fecho, o ISEB – NSW foi encerrado quando Olga se viu doente e não encontrou
pessoas motivadas a assumir sua condução. Reconhecendo ter dado a sua contribuição
com vistas à máxima difusão do pensamento do historiador, Olga encerra este
trabalho lançando o convite aos brasileiros a decidirem se querem ter
memória ou não.” (pp.139-140)
Roberta Vasconcelos
Leite prossegue sua análise traçando o que chama de ‘emergir da
pessoalidade’ na experiência do ser:
“Ao narrar o ciclo de quatro anos
dedicados à promoção da memória de seu pai, Olga afirma ter realizado um
esforço muito grande para que esta obra se concretizasse. Em alguns momentos,
ela comenta que esse esforço se sintoniza com uma característica sua: tenho
um perfil bastante ativo. Ante esse perfil que nos indica como ela se
envolve, buscamos compreender a quê ela precisa responder em sua experiência.
Apreendemos que Olga se dedica àquilo para o qual se vê chamada: ela se empenha
ativamente em função de outros significativos pelos quais elabora que vale a
pena se esforçar. No modo como descreve o período em que precisou cuidar da mãe
e o momento em que resolveu se dedicar à memória do pai, apreendemos essa
dinâmica em que seu próprio ser emerge e sua pessoalidade se expressa.
Acompanhemos estes dois eventos:
Olga elabora a necessidade de dedicar
parte de sua vida para cuidar de sua genitora se colocando a pergunta: como
ficar cuidando dos outros sem cuidar da minha mãe? É respondendo à
provocação desse chamado que emerge em sua experiência que ela ativamente se
envolve: rapidamente deduz a importância do retorno à cidade de origem e monta
todo o esquema para que a mãe tivesse o melhor tratamento possível. O bem estar
da mãe emerge como prioridade, convocando-a a cuidar. Reconhecendo-se
solicitada a afirmar um valor mais fundamental que aquilo que a ocupava no
momento, ela vive a urgência de dar sua resposta afirmativa: não atender ao
chamado é elaborado como contrariar a própria experiência.
Em relação à promoção da memória dos
Anos Dourados e do pai, Olga se dá conta do valor desse cuidado quando se
aproxima o momento do centenário de nascimento dele. Em sua elaboração, não foi
por ser ativa ou por estar interessada num retorno individual que ela passou a
se dedicar a esse projeto. A origem de seu gesto é apresentada num
questionamento que a invade – como vai ser? – diante do qual
sua resposta é categórica: se eu não começar a preparar o Centenário,
não vai acontecer, a memória vai se perder! Enquanto fazia outras
coisas, enquanto se dedicava ao próprio trabalho, a consciência do valor e da
fragilidade da memória atravessa sua experiência. Olga se vê diante de uma
evidência dramática que é tomada como convocação: é urgente que eu me posicione
e cuide do valor que se revelou a mim.
Uma revelação tão arrebatadora que a
fez relativizar a importância da contribuição especializada que poderia dar à
psicologia: a memória de Nelson e da intelectualidade que ele integrava é mais
importante que seu trabalho pessoal. Uma consciência que explicita a primazia
do que é amplo e para todos em detrimento do que é específico e para poucos: a
admiração pela excepcionalidade da pessoa dele e pelo quê essa geração
representa para o país tomam a cena, evidenciam uma experiência de dever e
indicam o que ela precisa afirmar. No modo como se dedica a esse chamado,
identificamos que Olga carrega a espera que o mundo reconheça o valor que ela
já reconheceu. Por isso ela se empenha tanto nos trabalhos do Centenário e toma
a decisão inédita de colocar as obras do pai em domínio público: a
possibilidade de ampliar o reconhecimento da grandeza intelectual dele a
mobiliza a abrir a porta, abrindo mão da exclusividade de publicação a que
tinha direito.
Nesse processo, ela se dá conta de
que não pode cuidar sozinha do que é significativo para si: é preciso que o
trabalho de cuidado seja coletivo, uma coisa conjunta. Enquanto acolhe o que a
ela se apresenta como chamado e lança propostas, Olga deseja envolver todas as
instituições. Mas, mesmo priorizando uma coisa muito boa para todos, mesmo
dando tudo de si à defesa de uma preciosidade para o Brasil,
ela vivenciou o drama de não ser capaz de garantir o que tanto desejava: não
acontecia nada. No trabalho para concretizar o Centenário, tornou-se clara para
ela a discrepância entre o seu modo de responder e a dinâmica das pessoas das
instituições que acordam mais lentamente.
Enquanto vivia esse drama de perceber
que a realização almejada não depende unicamente de si, ela elabora que um
acontecimento inesperado – o amigo tornou-se secretário de cultura e propôs o
Ano Nelson Werneck em Itu – é o realizar-se de sua aspiração: alguém se tornou
protagonista junto a ela na luta pela memória e a partir daí vão acontecendo os
eventos todos. Em sua elaboração, mesmo tendo se esforçado muito para isso, a
realização do desejo é vivida como acontecimento excepcional e surpreendente.
Ela colhe um desnível entre a configuração anterior desfavorável e a
conflagração de acontecimentos cuja amplitude entende pedir o reconhecimento de
uma intervenção do divino na história. Apreendendo a realidade como
providencial, ela descobre o próprio ser como protegido e amparado: sua
experiência é inundada pela presença de um Outro que a conduz e envolve num
laço amoroso.
Veja: eu explicar uma coisa
que é do plano materialista por uma coisa que é do plano espiritual… Olga
sabe bem a polêmica que seu modo de ler os acontecimentos instaura, sabe que
seus companheiros interpretam o processo de outra forma: ele é
materialista, eu é que me senti protegida nessa obra. A clareza de que
nem todos compartilham sua visão de mundo, no entanto, não lança dúvidas sobre
a experiência extraordinária que vivenciou e sobre a opção por ler o real
integrando os planos material e espiritual. A conflagração emerge como um fato
cuja excepcionalidade corresponde e intriga, sendo dada a cada um a liberdade
de buscar a compreensão mais razoável para sua existência.
Olga viveu esse processo
surpreendente com empolgação. Compreendemos que para ela concretizar o gesto de
amor pelo pai e pelo Brasil foi uma experiência de realização pessoal: permitiu
que integrasse dimensões da própria experiência que se encontravam
desconectadas e que se aproximasse de pessoas que retribuíam e interagiam com
ela afirmando a importância de sua iniciativa. Se reconectando à própria
história e à história do país, ela reconhece que fez o elo das gerações, colhendo
um grande retorno para si e semeando repercussões no mundo.
Entendemos que essa ressonância
coletiva, para Olga, é aspecto radical da possibilidade de concretização do
ideal que a estimula. Enquanto aconteciam os eventos do Centenário, perceber
outras pessoas se envolvendo e contribuindo – ou ao menos começando a se
interessar pela figura de Nelson e por sua geração – foi experimentar uma forma
essencial de retorno aos seus esforços. Dedicada a cuidar de uma
preciosidade para o Brasil, ela pôde testemunhar o cintilar de uma chama de
valorização da nossa história.
Ansiando pelo alastrar-se dessa
chama, ela sabe bem que a cada um é dada a liberdade de aderir ou não aos
valores reconhecidos, de efetivamente abraçar ou não a causa da memória. Tendo
feito tantas propostas, Olga ainda aguarda ressonâncias e segue aberta a
questão: como levar isso adiante? Descobrindo-se doente e
percebendo que, por mais que se empenhe e convide, não pode garantir a adesão
do outro, ela anuncia estar encerrando o ISEB-NWS. Diante do limite da própria
vida, ela elabora que não pode ser responsabilidade de um só a missão de
sustentar o valor da história de um país. Ao mesmo tempo, colhemos em sua
elaboração que a vivência do drama da continuidade não ofusca a percepção de
ter feito a sua parte: diante da evidência de que o futuro é incerto, ela
constantemente reafirma a certeza de ter dado a sua contribuiçãozinha.
Em suma, na análise da experiência,
vimos que Olga apreende o próprio ser no chamado a cuidar de algo que é
precioso e maior que si, no sentido de que se refere a um horizonte mais amplo
que o de seus interesses particulares. Sua pessoalidade se expressa em sua
resposta: dar o seu sim e dedicar-se inteiramente ao que identifica como valor
é elaborado como correspondente a si mesma. Em seu trabalho em prol da promoção
da memória de seu pai e dos Anos Dourados, apreendemos que o valor que ela
afirma é a grandiosidade da história brasileira e da importância que
tenhamos orgulho do que é nosso. Surpreendendo-se com os retornos que o seu
gesto alcança, Olga vive a experiência de descobrir o próprio ser também como
amparado e, ao mesmo tempo em que sabe não poder garantir a continuidade de sua
obra, reconhece a importância de ter dado a sua resposta.” (pp.140 – 143)
Roberta Vasconcelos
Leite apresenta, então, com muita justeza e respeito minha elaboração da
tradição:
“Para Olga seu trabalho no
Centenário, sendo um gesto de amor pelo pai, é uma expressão de amor ao país,
uma iniciativa que carrega a esperança de que a nação possa se orgulhar de um
período decisivo de sua história, os Anos Dourados. Uma época que ela defende
como preciosa por ver ali integração entre pensadores, maturidade intelectual e
cultural irradiando-se nos vários setores, perspectivas diferentes somando-se
no esforço de reflexão e incidência na realidade social. Olga admira-se por
reconhecer que, naquele período, esse esforço se materializava em encontros
realmente concretos, em que expoentes de cada área buscavam uns aos outros para
dialogarem e juntos formularem um planejamento claro, um efetivo projeto de
desenvolvimento brasileiro que naqueles anos começa a ser implementado pelos
presidentes Juscelino e Jango. Apreendemos que, para ela, ali acontecia a
gestação de uma cultura brasileira que deliberadamente foi abortada:
mais que tomar o poder, o grupo que orquestrou o golpe de 64 sabia da
importância de destruir tudo o que confluía para a
incipiente transformação do Brasil e de dispersar a geração seguinte, inviabilizando
sua memória. A consciência dessa interrupção do fluxo da história e da memória
exalta para ela a grandiosidade do que vinha acontecendo e a fecundidade da
contribuição daqueles intelectuais.
No modo como Olga nos descreve as
características daquele tempo, continuamente emerge a imagem de uma nação
ideal. Os intelectuais não só pensavam de modo global, como também se
engajavam; a cultura era valorizada como instrumento de transformação social;
as mais variadas tendências políticas dialogavam no ISEB mirando um horizonte
comum; Nelson, que era crítico da Igreja, abria-se aos intelectuais católicos.
Apreendemos no movimento de sua memória o delineamento de um ideal em que a
integração se apresenta como característica: integração entre pensamento e
ação, entre educação e desenvolvimento, entre pessoas de perspectivas
diferentes.
Conhecer verdadeiramente aquela época
– e não apenas ver na televisão ou internet – significa, para
Olga, compreender a radicalidade do que era então gestado e tomá-la como
referência, ter orgulho da grandiosidade da nossa história e se empenhar na
formulação de um pensamento enraizado na realidade do nosso país e em seus
desafios atuais. Ao narrar o seminário no IPEA, ela pontua que com esta sua
valorização daquele período não está defendendo a recriação de
algo pretérito, pois sabe que a história se faz com fatos. Trata-se
efetivamente de ter memória: o passado ser reconhecido como
presença que fecunda o agora e nos mobiliza a sermos críticos e construtivos.
Vemos a própria Olga evidenciar essa
possibilidade de construtividade da memória quando ela discorre sobre o
Exército: várias vezes afirma a possibilidade de que o fechamento atual seja
superado, pois, se a sua história muito bonita mostra que a
instituição já foi muito diferente do que é hoje, é possível que volte a
sê-lo. Assim, mesmo expressando claramente seu descontentamento com os rumos
atuais da instituição, entendemos que ela toma os acontecimentos passados não
como algo distante que lamentavelmente foi desvirtuado, mas como referência que
fundamenta a crítica presente e a esperança em uma alteração futura.
A consciência do valor da memória
para que possamos nos posicionar no presente e erigir o futuro é também
reconhecida por Olga como um drama: se as pessoas não sabem isso, como
vai ser? Drama vivido como dor diante de tantos sinais de que no
Brasil, nossa memória é curta, as pessoas não conhecem a
sua cultura, não sabem fazer conexão e paradoxalmente
reivindicam melhorias destruindo tudo. Interrompido o processo de transmissão
de geração em geração, somente se deslumbrar diante da
riqueza do nosso passado sem nos apropriarmos das contribuições para o presente
é pouco para ela: urge lutar para retomar valores que então eram afirmados. A
consciência da incidência histórica daqueles intelectuais emerge em sua
experiência como possibilidade de que o Brasil se enraíze como nação. Daí seu
esforço em divulgar a figura de Nelson e a construtividade da geração dele:
tudo que fez pelo Centenário tem a ver com isso. Daí sua decepção ante o povo
brasileiro que não sabe se quer ter memória.
E, sem memória, o que nos resta? Olga
denuncia o simulacro que se tornam as instituições quando não há valorização da
própria história e tradição, quando impera a cultura do imediato.
Afirma que o governo acredita que tudo o que propõe é novidade, não suspeita
que houve uma época em que se pensou o desenvolvimento e não
articula uma real reflexão sobre um projeto para o país. Insiste que a
universidade promove uma massaroca de especialidades imediatistas que
inviabiliza a integração necessária para um pensamento amplo sobre nossa
sociedade – tanto que diante do desafio de entender um movimento nacional
inovador, rapidamente se recorre a pensadores de fora. No entanto, mesmo com
sua crítica aguda ao momento atual do governo e da universidade, Olga faz
questão de participar quando é convidada; mesmo doente, não se recusa a ajudar
os pesquisadores que a procuram. No mesmo sentido, em sua defesa de que tenhamos
orgulho do que é nosso, não a apreendemos fechada ao que é
estrangeiro, mas sim atenta para que o que é importado não se sobreponha de
modo artificial, abafando a urgência de que todos conheçam e valorizem o que
existe de precioso em nossa história.
Como vimos, findo o ciclo do
Centenário, Olga se vê diante da necessidade de elaborar seu fecho:
descobre-se doente, afirma o valor de seus esforços e do que conseguiu
construir, ao mesmo tempo em que percebe que sozinha não poderá continuar
carregando a memória de Nelson e tudo o que ela representa. Quando convida
outros a assumirem a presidência do ISEB – NWS e não encontra respostas
positivas, o drama da continuidade se apresenta: a memória é um valor, mas ela
está diante da dificuldade de garantir sua afirmação, pois as pessoas
se interessam, mas depois… largam.
Essa urgência da resposta do outro
para que o que ela cuidou não morra é ponderada por Olga: não vai
morrer totalmente porque está na Biblioteca Nacional. A preservação dos
registros materiais – assim como ter colocado a obra de Nelson em domínio
público – desponta como estratégia que pode garantir a continuidade a despeito
do descaso atual. Uma estratégia em que a certeza de ter feito a sua
parte se soma à percepção de que o sentido de cuidar de algo
precioso se completa em sua transmissão e acolhimento pelas novas
gerações: lá está o registro encharcado da esperança de que alguém
queira cavar depois, fazer doutorado, pesquisar... Assim, ciente de
que, após o Ano do Centenário a chama se apagou, Olga segue esperando pela
germinação das sementinhas que ajudou a regar. Em especial,
anseia por ver algum movimento de retomada na área da história, pois sendo este
o campo em que Nelson lançou suas contribuições, é aí que sua obra precisa
frutificar: se historiadores assumirem, fizerem teses, aí a coisa vai
se realizar.
Em síntese, compreendemos que Olga
vive a tradição reconhecendo a importância de uma geração para a história do
Brasil, empenhando-se concretamente para que essa geração possa ser
efetivamente conhecida e admirada, constituindo-se como referência para o modo
como avaliamos as propostas atuais e construímos o país hoje. Apreendemos em
sua elaboração que esta seria a possibilidade de uma memória viva e, justamente
por isso, ela reconhece o valor do trabalho que empreendeu, sofre ao ver que os
outros não tomam nas mãos essa preciosidade, e espera que um dia o Brasil
acorde para sua história belíssima.” (pp.139-146)
É muito interessante também
como Roberta Vasconcelos Leite
estabelece uma relação entre experiência do ser e tradição em minha
elaboração pessoal:
“Na narrativa de Olga, identificamos
momentos de percepção de si quando ela se surpreende chamada a cuidar de sua
mãe e da memória de seu pai: em ambas as situações, enquanto se dedicava a
outras questões, descobriu-se solicitada a cuidar de algo que para ela é valor.
Dando sua resposta positiva a esse chamado, reconhece tanto ter dado uma
contribuição real quanto ter se realizado pessoalmente. No caso do centenário
de Nelson, acolhendo essa convocação, no mesmo ato ela responde afirmativamente
ao dever que emerge na percepção do próprio ser e cuida da tradição de que é
herdeira, promovendo seu conhecimento entre as novas gerações. E, quando
contempla a conflagração que viabilizou o alcance que excedeu em muita
sua capacidade pessoal, ela elabora tanto reafirmando o valor da tradição
que estava propondo, quanto reconhecendo o próprio ser como protegido por um
Outro.
Na análise da elaboração da tradição,
vimos que a geração de intelectuais de que Nelson fazia parte encarna para ela
um ideal de integração entre pensamento e ação e diálogo real entre diferentes
setores. Seu empenho pela vitalização da memória desse período carrega a
solicitação de que os outros, assim como ela, possam ter orgulho e tomar nas
mãos a grandiosidade inscrita na história brasileira. Ter memória para ela
coincide com a possibilidade de perceber o próprio ser como enraizado e de
responder de modo pessoalizado ao passado, reconhecendo seus dramas e tomando o
que existiu de precioso como referência nos posicionamentos presentes.
Assim, no modo como apreende o
dinamismo da memória e da tradição, Olga se vê diante do drama de que o próprio
gesto também precisa da adesão do outro. E, quando à constatação desse drama
soma-se a descoberta de estar doente, ela conclui que não faz sentido continuar
se esforçando sozinha e elabora essa tensão evidenciando a responsabilidade que
cabe aos brasileiros, ao mesmo tempo em que enfatiza a resposta que ela já deu.
Resposta em que vimos a expressão da
sua pessoalidade ao afirmar um valor radicalmente correspondente ao próprio
ser: a preciosidade da sua tradição. Em suma, Olga descobre com vitalidade o
próprio ser reconhecendo o valor da tradição em que foi formada e respondendo
de modo pessoal para que essa tradição tenha incidência no mundo.” (pp.
146-147)
Dos diálogos
de Roberta Vasconcelos Leite com
seu referencial teórico, destaco apenas alguns pontos que me parecem cruciais e
de grande relevo:
Ela
relaciona, meu processo, com o que a filósofa Edith Stein[5], “descreve como
descobrir-se sustentado pelo Ser”. Esta filósofa representou um fundamental
papel na elaboração de minha concepção filosófica, psicológica e espiritual, e
por isso muito me alegrei nessa referência da análise de Roberta ao seu
enfoque: “...entendemos que para Olga isto significa tanto afirmar a força do
que vivenciou e a razoabilidade da integração entre os planos material e
espiritual, quanto manter-se aberta a reconhecer outras visões de mundo que,
lendo os mesmos fenômenos, chegam a compreensões diversas da sua” .... (p. 148)
Na sequência, Roberta Vasconcelos Leite delineia meu
movimento de confrontar propostas atuais com a apropriação dos valores herdados
da geração de meu pai e de conceber a possibilidade de que esses valores se
tornem objeto de trabalhos de memória empreendidos por outros brasileiros. Ela
apresenta este meu movimento como um modo de operar as conexões entre passado,
presente e futuro, na perspectiva a que se refere Hannah Arendt[6]: “Com a filósofa,
também identificamos como Olga, a partir da vitalidade de sua tradição, pode
tomar e reapresentar a memória do ISEB como prenhe de significado,
empenhando-se para resguardá-la de apropriações indevidas pelo poder, tal como
vimos em sua crítica ao anúncio de um possível interesse de recriação do
instituto por parte do governo.” (p. 148)
Nessa análise da
relação entre experiência do ser e tradição, Roberta Vasconcelos Leite observa que “ a elaboração da experiência
nos indicou que, atendendo ao chamado de cultivar a memória, Olga expressa e
atualiza o próprio ser.” (p. 148) Refletindo a partir de Luigi Giussani
(1922 – 2005)[7], que considera
que, sendo leal à própria tradição, a pessoa tem a ocasião de se descobrir e
posicionar de modo próprio no mundo, ela ressalta: “ Em Olga,
apreendemos como esse dinamismo se encarna quando ela, reconhecendo valor num
período histórico preciso, se reconhece responsável por ele, percebe os valores
que são constitutivos para si e, cuidando deles, experimenta a chama de
vitalização da memória. Ainda que ela elabore que essa chama tenha sido fugaz,
no fascínio vivido diante do seu brilho vimos como Olga toma os vários tipos de
retornos à sua iniciativa como experiências que também a realizam
pessoalmente.” (pp. 148-149)
Roberta
Vasconcelos Leite conclui centrando sua análise numa discussão com o filósofo
anteriormente mencionado, Walter Benjamin. Ela avança
em sua análise, considerando meu compromisso entre gerações e identificando no
meu empenho em promover o conhecimento da fecundidade dos projetos de uma
geração específica, que foi abortada, uma forma de referência às elaborações
desse complexo filósofo: “...acerca do dinamismo da memória como reconhecimento de que somos
tributários do que se passou antes de nós. E, portanto, devemos ser solidários
até mesmo – ou principalmente – com as expectativas não realizadas daqueles que
nos precederam... “(p.149)
E enfatiza: “Entendemos que
essa reconciliação emerge como fundamental também nas elaborações de Olga:
consciente da grandeza de um passado tão recente, mas já esquecido, ela
problematiza o que poderá ser o futuro do Brasil sem ancoragem na própria
história. Por isso seus esforços dirigem-se a evidenciar que existiu uma
maturidade intelectual, cultural e humana nos Anos Dourados atualmente
insuspeita para o povo brasileiro e seus líderes, cuja excepcionalidade precisa
ser conhecida para que melhor nos situemos no presente e construamos nosso
futuro como nação. Nesse sentido, colhemos na experiência de tratamento de sua
mãe uma espécie de metáfora do que ela vislumbra que precisa acontecer no país:
Olga aposta que, num momento de desorientação como o que vivemos – em que
tantas instituições importantes parecem estar imersas num imediatismo –
reencontrar raízes pujantes da nossa cultura pode contribuir para que nos
fortaleçamos e possamos ter critério para a construção de projetos mais
consistentes.” (p. 149)
Roberta
Vasconcelos Leite põe em destaque meu modo particular de referência à geração
passada: “Elaborando o momento atual, identificamos como Olga toma o apego à
geração de seu pai como referência para avaliar a realidade social e
institucional no Brasil. Sua admiração pelos Anos Dourados emerge não como um
deslumbramento passageiro, mas como uma memória viva que a enraíza e fundamenta
sua crítica ao que tem sido proposto e reproposto às novas gerações. Para ela,
a tradição que impregna a universidade, o governo e a mídia hoje têm como
marcas a parcialidade, a fragmentação, a busca alienada por referências
externas, configurando um pensamento estreito e incapaz de compreender as
inovações e os desafios próprios da realidade brasileira. Situação que ela
apresenta como diametralmente oposta à visão global e aos projetos de
desenvolvimento que distinguiam a intelectualidade nas décadas de 1950 e 1960.
E, em sua elaboração, foi justamente o aborto dessa intelectualidade, e também
da geração que carregava sua memória, que promoveu esse estado de desconexão e
estupor imediatista em que as instituições e o povo hoje se encontram. Daí a
importância de empenhar-se para tornar Nelson e sua geração conhecidos, de modo
a contribuir para que o Brasil acorde para a sua história, acorde para si
mesmo...” (p. 150)
O ponto chave de
sua análise é, entretanto, a diferença fundamental que pontua entre minha
experiência de resgate e reparação da memória da geração passada e a abordagem
da questão por Benjamin a esse respeito: “Na análise da experiência de Olga,
ao invés, vimos que ela não se ocupa prioritariamente em revidar o golpe
desferido contra seu pai e a geração dele, mas sim em difundir a potência de um
acontecimento histórico: a integração que eles viviam e a amplitude do projeto
que gestavam, de tal modo que possa se alastrar a admiração e a valorização que
ela experimenta em primeira pessoa. Nesse sentido, compreendemos que,
dedicando-se integralmente a esta difusão e não se envolvendo com os movimentos
de reparação, Olga nos mostra que o foco dela não está no embate contra a
injustiça, mas na certeza quanto ao valor do que foi abafado e que precisa ser
continuamente afirmado....” (pp. 150- 151))
Roberta
Vasconcelos Leite chama a atenção para uma diferença que pode parecer sutil, mas que
revela uma relação particular entre minha experiência do ser e a tradição,
permitindo de distingui-la do processo de resgate, correção dos erros,
reparação das injustiças e cicatrização das feridas. Considera ela, que minha
postura enriquece a proposta de Benjamin sobre o trabalho da memória como
possibilidade da redenção do passado, afirmando sua fecundidade para o presente
e o futuro. A compreensão desta diferença lhe permite chegar a uma conclusão
bastante original: “A análise nos indica que Olga reconhece o valor daquela geração de modo
profundamente pessoal: a maturidade humana e cultural deles a formou e é por
ela reconhecida como pessoal e coletivamente correspondente. Assim, não é por
um revanchismo ou um saudosismo que ela propõe que os projetos de hoje se
ancorem no trabalho da memória, mas sim por reconhecer em si a urgência de
responder à preciosidade daquele período, isto é, por perceber o chamado a
cuidar como uma expressão do seu próprio ser que ela não pode negligenciar... a
análise da experiência dela nos ajuda a avançar no entendimento de como a
proposta dele (isto é, Benjamin) pode se constituir como um projeto vitalizado
de transformação histórica a partir do compromisso entre gerações... O modo como
ela elabora ter refeito o elo de gerações se apresenta a nós como uma
possibilidade de compromisso com o passado que não provém de um dever imposto
ou de uma reatividade, mas de uma atenção à própria experiência que permite
viver a tradição de modo vitalizado: sintonizado com o que é correspondente ao
próprio ser e empenhado em despertar o maravilhamento com o passado como forma
privilegiada de promover uma memória realmente viva –... (p. 151)
De fato, concordo
com a importância sobre a redenção das injustiças realizadas não apenas contra
meu pai, contra sua obra, contra uma criativa geração de intelectuais, contra
os mais de oito mil militares expulsos do Exército, contra os mortos e
desaparecidos, contra os que perderam entes queridos, bens materiais e
trabalho. Roberta Vasconcelos Leite
captou muito bem, contudo, a sutil diferença de minha postura em relação ao
passado. Considero que a maior injustiça foi feita contra a
possibilidade de futuro para os destinos da nação brasileira, na interrupção da
transmissão viva do precioso legado da geração passada, em particular o legado
de Nelson Werneck Sodré. Diante da enorme tragédia que vivemos atualmente, meu
foco principal é a necessidade de reelaborarmos esse passado não apenas para
reivindicar justiça para a, b ou c, mas para evitar que as gerações presentes e
futuras não continuem enganadas e sem rumo. A memória viva ajuda a compreender
e valorizar a nossa história, evitando que ela seja distorcida e destruída. Ela
abre novos horizontes para que possamos avançar com passos firmes no caminho
aberto pelos valorosos combatentes que nos antecederam.
FONTE DA IMAGEM:
http://www.filmeducation.org/legendoftheguardians/living_the_legend.html
PARA VER NO FACEBOOK:
https://www.facebook.com/centrodeestudos.brasileiros/posts/3635460383200899
COMENTÁRIOS
PELO FACEBOOK:
Gratidão, Olga Sodré!
Muito
bom, parabéns!
OUTRAS MANIFESTAÇÕES DE INTERESSE PELO FACEBOOK:
COMENTÁRIOS POR EMAIL:
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Querida Olga
Pax!
Acabo de ler essa apresentação tão bela e tão completa do seu trabalho para a
divulgação do legado que seu pai nos deixou; e encantou-me a relação com a pesquisadora Roberta Vasconcelos. Quanta esperança surge ao
vermos uma jovem tão cheia de títulos, captar o alcance a importância do legado
do General Nelson Werneck Sodré para a História do Brasil.
Muito obrigada pela divulgação e pela partilha! Como você herdou de seu querido
pai, essa garra de vencer os obstáculos que se apresentam, para chegar a meta
desejada, apontada pelo próprio Deus.
Que tudo seja para a maior glória de Deus e que possa dar muitos frutos de
conversão e de perseverança.
Grande abraço e a bênção, de sua Madre
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Parabéns, Olga Sodré,
Gostei desse tema de pesquisa “Os
guardiães da Memória”. Abraço afetuoso do Gilberto Mendonça Teles
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Obrigada!!!
Vou ler com atenção e carinho.
SÉRGIO CALDIERI divulgou em sua rede de comunicação e eu recebi pelo e-mail do ISEB - NWS Nelson Werneck Sodré (ceb.nws@gmail.com) em 07/01/21.
COMENTÁRIOS PELO WHATSAPP:
MAGDA ROMANO DE CAMPOS PINTO enviou para sua lista do Whatsapp.
MARLUCE MARIA SOUTO MAIOR TAVARES
Li a sua matéria Guardiões da Memória, elo vital entre o passado, presente e futuro ... muito boa e esclarecedora, entre as melhores que já li. Eu te cumprimento por colocar o legado do teu pai à disposição da nossa geração e a de nossos descendentes.
MIGUEL MAHAFOUD
Obrigado! 👍😊
[1]Roberta
Vasconcelos Leite é Doutora em Psicologia
pela Universidade Federal de Minas Gerais (2015), realizou estágio doutoral na
Università di Bologna (Itália) e é atualmente Professora Adjunta da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri,
atuando também como Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Humanas, na linha de pesquisa "Educação, Psicologia e Cultura". É
editora assistente da revista Memorandum: memória e história em
psicologia.
[2] Escreveu
Roberta nesse e-mail sobre sua proposta de pesquisa: “Em meu percurso
acadêmico, tenho me interessado muito sobre como, mesmo em face ao ocaso das
tradições que marca o nosso momento histórico, muitas pessoas e grupos seguem
cuidando das heranças recebidas, reconhecendo o valor da experiência daqueles
que vieram antes de nós... Aproximando-me de iniciativas que de certo
modo vão contra a corrente de esquecimento de tradições e desenraizamento
social, me interessa compreender como o processo de cuidar da preservação da
memória é elaborado na percepção de si e do legado cultural
recebido...Conversando com o Miguel, ele me contou todo o trabalho que você
realizou e continua realizando de preservação do acervo de seu pai, Nelson
Werneck Sodré, e restauração da memória dele. Por essa razão, Miguel e eu
percebemos que seria muito rico conversar com você sobre essas experiências e
gostaríamos de convidá-la a contribuir para a nossa pesquisa. “
[3] Walter
Benjamin (1892- 1940) foi um filósofo, sociólogo, tradutor, ensaísta
e crítico literário alemão de origem judaica, que fez parte da renomada Escola
de Frankfurt.
[4]“Em uma manhã de agosto,
nos dirigimos ao apartamento em que Olga reside no bairro de Copacabana, no Rio
de Janeiro. Afetuosa, ela narra o período de quatro anos dedicados à memória de
seu pai e da geração que ele integrava. O brilho em seus olhos ao descrever a
conflagração do centenário do pai alterna-se à indignação ao denunciar o
descaso com nosso passado que impera no Brasil. Além das muitas informações e
livros com que nos presenteia, ela se empenha para enriquecer a pesquisa
sugerindo-nos a visita à Biblioteca Nacional, onde Nelson depositou seu acervo
ainda em vida. Acolhemos sua proposta desejando melhor compreender a
envergadura da contribuição dele para a historiografia brasileira. Assim,
naquele mesmo dia, conhecemos o Setor de Manuscritos com a bibliotecária Vera
Faillance e a professora Luitgarde Barros. “(p. 122)
[5] Edith Stein
(1891-1942) foi uma santa, filósofa e
teóloga alemã de origem judaica que se converteu ao
catolicismo e se tornou monja carmelita. Ela foi a segunda mulher a defender
uma tese de doutorado em filosofia, na Alemanha, e foi discípula e depois
assistente do grande filósofo e fundador da fenomenologia, Edmund Husserl.
Assassinada aos 50 anos, morreu envenenada numa câmara de gás do campo de
concentração de Auschwitz-Birkenau, e foi canonizada como Santa Teresa Benedita
da Cruz.
[6] A filósofa alemã, Hannah Arendt (1906 – 1975),
foi outra escolha muito pertinente de Roberta Vasconcelos Leite, pois
ela muito influenciou minha visão da filosofia política.
[7] Ele foi um
intelectual italiano, padre e fundador do movimento católico ‘Comunhão e
Libertação’.
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