30. CONCLUSÃO DE MEMÓRIA E INTERATIVIDADE
LEMBRANÇA PARA OS AMIGOS
CONCLUSÃO DE MEMÓRIA E INTERATIVIDADE
- ENCERRAMENTO DA
JORNADA EM HOMENAGEM A NELSON WERNECK SODRÉ –
FELIZ ABERTURA DO CENTENÁRIO NO MUSEU
REPUBLICANO (ITU)
Com a publicação da edição histórica do livro MEMÓRIA E
INTERATIVIDADE, estamos encerrando mais de dez anos de dedicação ao resgate
da vida e da obra de Nelson Werneck Sodré, que se iniciou a partir de 2008
tendo como objetivo as preparações para o centenário dele em 2011. Como meu
pai tinha muitos seguidores, entre eles defensores do seu método marxista e um
grupo de assistentes no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), eu nunca
tinha pensado em assumir o papel de me dedicar à sua obra.
Desde meados dos anos setenta do século XX, eu me afastara do
marxismo e me orientara para a psicologia e a espiritualidade, como já narrado
neste e em outros livros sobre ele. Eu vinha aprofundando este caminho com
grande interesse e sucesso tanto na vida acadêmica como na clínica psicológica,
tendo publicado vários livros e artigos, aberto novas veredas de pesquisa e
inovado o tratamento em psicoterapia com a introdução do método da ‘odisseia
terapêutica’.
Por ocasião do centenário, entretanto, ao perceber que a nova
geração tinha perdido o contato com a contribuição dele e de sua geração
intelectual, senti que cabia a mim como herdeira da obra não deixar passar em
branco esta ocasião e tentar evitar que a memória dele fosse esquecida, como
relato neste e em outros livros sobre ele. A presente obra e os quatro outros
livros publicados desde 2011 reúnem o registro desta luta de resgate de sua
memória. Assim sendo, considero já ter feito a minha parte, cabendo agora aos
historiadores e apreciadores de sua contribuição levarem adiante a luta para a
preservação dela em benefício do povo brasileiro.
Embora muitos outros intelectuais da geração de Nelson Werneck
Sodré ou posteriores a ele tenham dado preciosos aportes para pensarmos a
realidade social de nosso país, a História do Brasil e um projeto para o
desenvolvimento brasileiro, continuo considerando que sua perspectiva é
essencial para nossa realização como povo e nação. A originalidade de sua
contribuição reside no fato de ele ter percebido que o desenvolvimento não pode
ser avaliado apenas em termos econômicos e por ter apreendido a importância da
cultura, da comunicação social e da democracia para a construção da identidade
de um povo.
Talvez em função de minha formação como psicóloga social, eu
pude valorizar este ângulo de seu enfoque e sua integração entre a luta político-econômica
e esta perspectiva sobre o papel da cultura e da comunicação. Nelson Werneck
Sodré trouxe uma visão completamente nova ao repensar a questão do nacionalismo
e da democracia para os povos oriundos da colonização, enfatizando a
importância deles se libertarem da alienação colonial e se afirmarem como povo
e nação pela luta cultural e democrática.
Neste sentido, foi interessante ter observado a relevância da
auto- afirmação do povo brasileiro ocorrida com as conquistas das medalhas na
Olimpíada de 2021, no Japão, num momento de grande desânimo e descrédito nas
possibilidades do país. É evidente que a valorização de nossas potencialidades
não pode se restringir ao esporte. Mas soprou neste momento uma justificada
alegria pela realização de nossos atletas, apesar da falta de apoio e incentivo
oficial. A cultura não se restringe ao campo intelectual e artístico, muito
menos à cultura de uma elite. Desde os gregos, o cultivo do esporte fez parte
da cultura física e do conhecimento do corpo e de suas potencialidades.
Ao longo da etapa de preparação para a celebração dos 110 anos
de vida de Nelson Werneck Sodré, iniciada no final de 2019, fiz muitas
descobertas, particularmente sobre a questão da relação entre a memória e a
interatividade. Esta questão é relevante não apenas na obra deste autor, - que
escreveu vários livros de memória e a integrou à sua concepção histórica – mas
também para a psicologia. Desse modo, a questão da memória já estava em meu
foco de interesse e ocupava um lugar especial em minha abordagem da história e
da psicologia.
Ao me lançar na preparação da celebração dos 110 anos e ao
começar minha divulgação nas redes sociais, eu segui apenas um impulso do
coração e não tinha nenhuma proposta delineada. É importante assinalar que meu
conhecimento das redes sociais era reduzido e eu, vivendo mais recolhida
espiritualmente, não costumava frequentá-las. Meu Facebook do Centro de Estudos
Brasileiros (CEB-NWS) foi criado por minha assessoria de imprensa, na época do
centenário de meu pai em 2011, e tinha permanecido inativo desde então. Posteriormente,
este Facebook e a divulgação sobre ele pelas redes sociais foram reativados por
uma nova assessoria de imprensa criada para me ajudar nas celebrações dos 110
anos de Nelson Werneck Sodré.
Quando esta assessoria de imprensa foi interrompida, em vez de
contratar outra, eu resolvi a ela me dedicar com a ajuda de meu professor de
informática, Lucas Fernando Rosa, a quem devo todo conhecimento e prática
adquirida desde 2019. Foi ele, aliás, que me incentivou a criar os dois blogues
que hoje tenho: um para Psicologia Espiritualidade e outro para a Memória Viva
de Nelson Werneck Sodré. O primeiro começou em fevereiro de 2020, e só me
lancei no segundo em novembro de 2020.
A proposta deste segundo blogue, ‘NELSON WERNECK SODRÉ, VIVO NA
MEMÓRIA BRASILEIRA’ era reunir informações e testemunhos sobre Nelson Werneck
Sodré para que se conhecesse seu combate pela cultura e desenvolvimento
democrático. Tendo partido de uma análise da atual crise civilizatória,
verifiquei a importância de se preservar o combate de intelectuais pelo bem da
humanidade, da nação brasileira, da justiça social e da democracia – como foi o
caso de nosso historiador – a fim de termos referenciais e não perdermos de
vista o que é realmente importante para o futuro do país e os valores em jogo
nessa luta.
Aos poucos, fui descobrindo a questão da memória viva nas pessoas
que traziam seus testemunhos, mas foi apenas no início de 2021 que minha
atenção passou a focalizar a relação entre a memória viva e a interatividade.
Percebi que ao trazerem o autor e seus escritos para o contexto presente, seus
leitores revelavam não apenas sua atualidade como também lhe davam novo alento,
tornando viva a memória de Nelson Werneck Sodré.
Meu primeiro texto sobre Memória e Interatividade data de
19 de maio de 2021. A partir daí, este tema e a conexão pelas redes sociais se
tornaram o foco da publicação dos testemunhos, de tal modo que a introdução à
obra em homenagem aos 110 anos do autor tem como título: RENOVAÇÃO DA MEMÓRIA
PELA INTERATIVIDADE - NELSON WERNECK SODRÉ NO NOVO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO EM
REDE. Esta introdução faz parte do livreto 1 e contém uma abordagem das novas
formas de relação e comunicação, na qual exponho as descobertas que fiz ao longo do trabalho de manter viva a
memória de Nelson Werneck Sodré. Apresento também meu enfoque sobre a
interatividade, fazendo um breve histórico de seu aperfeiçoamento pela evolução
da tecnologia.
Nesta introdução está registrada minha única transmissão direta
ao vivo (live) realizada pela Mundial News FM. Não farei nenhuma outra,
e só fiz esta como forma de agradecimento ao incansável trabalho de divulgação
da obra de Nelson Werneck Sodré e dos testemunhos em
sua homenagem pelo meu grande amigo e jornalista Sérgio Caldieri – que
colaborou incansavelmente me apoiando e contribuindo para transmitir nossas
notícias em suas redes. A introdução - que se encerra com minha apresentação da
construção do edifício intelectual de Nelson Werneck Sodré – contém um precioso
texto deste combativo jornalista.
No contexto brasileiro atual, contaminado pela polarização,
divisão e ódio, muitos grupos sociais se mantêm fechados em suas narrações e
discursos, impermeáveis e pouco receptivos para novas abordagens. Observei que
membros das comunidades católicas ou grupos de intelectuais com os quais estou
em contato pouco se interessaram por minhas publicações sobre Nelson Werneck
Sodré ou sobre psicologia e espiritualidade. A maioria se mostrou indiferente,
desinteressada ou até mesmo desconfiada por uma proposta que contém sementes de
espiritualidade e referências a análises marxistas da realidade social – o que
não me surpreende! Considero que um escritor não deve ter compromisso em
agradar as pessoas ou em ter seguidores, mas em seguir a verdade e a justiça
social, inspirando-se na sabedoria.
Os jovens pesquisadores que participaram da obra Memória e
Interatividade estão inseridos num contexto em que as universidades brasileiras
se encontram separadas da vida social e também fechadas sobre si mesmo, mais
voltadas para suas publicações e carreiras. Assim sendo, é natural que, depois
de terem participado das publicações sobre Nelson Werneck Sodré com seus
testemunhos, eles tenham voltado a se dedicar exclusivamente a suas caminhadas
intelectuais e acadêmicas. Mesmo continuando a pesquisar e a escrever sobre
Nelson Werneck Sodré, suas análises sobre ele correm assim o risco de não
estarem integradas à atual vida social e política brasileira, como acontecia
com a intensa participação deste autor na vida pública brasileira.
Quero esclarecer que, conhecendo as pressões do meio acadêmico,
entendo perfeitamente que estes jovens professores e pesquisadores não tenham a
mesma disponibilidade de participar de todas as demais publicações desta obra
coletiva. Isto é compreensível tendo em vista as condições de produção e as
exigências das carreiras universitárias. Além disso, eles estabeleceram um
proveitoso diálogo comigo, escreveram e divulgaram interessantes contribuições
para Memória e Interatividade, enquanto outros historiadores e
especialistas na obra de Nelson Werneck Sodré se mantiveram em silêncio ou nem
chegaram a tomar conhecimento destas publicações. As contribuições deles foram,
portanto, muito valiosas.
Contudo, existiram também participações mais constantes de
professores e pesquisadores do meio universitário, que gostaria de
destacar: o historiador Antonio Carlos Mazzeo – embora em intensa atividade escrevendo
seu novo livro – sempre encontra tempo de se manifestar sobre as diferentes
publicações. Eminentes pesquisadores da pós-graduação em psicologia, como
Geraldo José de Paiva, Luiz Fernando Rangel Tura, Miguel Mahfoud, Ana Jacó ou
Angela Arruda, entre outros – mesmo não sendo historiadores – sempre
participaram de diferentes publicações, demonstrando seu permanente carinho e apreço
pela a obra de Nelson Werneck Sodré
Uma das características importantes dos testemunhos e
participações na obra coletiva Memória e Interatividade foi justamente a
criação de uma corrente de pessoas amigavelmente unidas pelos valores
defendidos pelo meu pai e por um amor pelo nosso povo e pela História do
Brasil. Embora sendo uma pequena minoria, sua contribuição para esta obra foi
preciosa. Além da contribuição intelectual trazida pelos diferentes textos,
comentários e diversas manifestações pelas redes sociais, a leitura das
publicações ao longo deste período nos permite entrar na atmosfera amigável
transmitida pelos elos dessa corrente.
Este resultado me enche de alegria, reconhecimento e satisfação
pelo trabalho realizado e por perceber que ele não se limitou ao plano do
debate de ideias, mas se enraizou na amizade, no modo de ser e encarar a vida
associando a combatividade, a ternura e a paixão. Este é um importante legado
para as atuais e futuras gerações, que nos foi transmitido não apenas pela
apaixonada obra de Nelson Werneck Sodré e seu amor pelo nosso povo, mas também
por muitos dos que participaram desta edição em sua homenagem. A todos os
participantes dessa jornada deixo registrada minha profunda gratidão e
reconhecimento pela atualização e renovação da contribuição histórica de meu
pai e por terem enriquecido esta atmosfera amigável.
FONTE DA
IMAGEM: FOTO DE ITU.COM.BR. AO CENTRO, YOLANDA FRUGOLI SODRÉ, ESPOSA DE NELSON
WERNECK SODRÉ E SUA FILHA OLGA À ESQUERDA, NA FELIZ ABERTURA DO CENTENÁRIO DE
2011 NO MUSEU REPUBLICANO (ITU).
PARA VER
NO FACEBOOK:
https://www.facebook.com/centrodeestudos.brasileiros/posts/4278848152195449
Comentários
Postar um comentário